Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Cair na realidade O GLOBO EDITORIAL,

O continente tem uma longa crônica de desigualdades sociais, de elites incapazes de formular projetos que contemplem ao mesmo tempo o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida das populações por inteiro. Devido a raízes históricas e até localização geográfica, a América Latina parece fazer parte do “Extremo Ocidente”, terra de exotismos, inclusive ideológicos.
Talvez pela instabilidade das instituições, a reforma liberalizante da década de 90 — que no Brasil recuperou, pela privatização, serviços essenciais como o de telecomunicações — não criou raízes como deveria.
O resultado é que a região continuou sendo campo adubado para o populismo, a demagogia manipuladora de massas sem instrução, facilmente conduzidas pelo assistencialismo condimentado por discursos “antiimperialistas”. Na sociedade brasileira existe o mesmo vírus.
Mas, pela tamanho que atingiu a sua classe média, por ser um país de economia diversificada e que ampliou o grau de abertura ao exterior, o Brasil fortaleceu os anticorpos contra aventuras patrocinadas por esses projetos salvacionistas.
O mesmo não ocorreu com outros países, e por isso há hoje uma aliança entre Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai, bem como Nicarágua e Cuba — esta em vias de se aproximar dos Estados Unidos —, que atua em prol de um modelo autárquico, fechado ao mundo, algo que só subsiste em regimes autoritários.
O governo Lula, por pedigree ideológico, se aproximou do bloco e conduziu uma política externa inspirada na visão de esquerda moldada na Guerra Fria: conflito Norte-Sul, “pobres contra ricos”.
Não deu certo, como o governo tacitamente reconheceu ao fazer uma manobra de 180 graus na tentativa de salvar a Rodada de Doha. Não conseguiu, mas foi importante cair na real. A admissão do equívoco veio tarde, mas foi e é um avanço.
E se dúvida houvesse, está aí a ação orquestrada de Equador, Bolívia, Paraguai e Venezuela — a nau capitânia dessa e outras operações antibrasileiras — para dar um calote no país que pode chegar a US$ 5 bilhões. Um, de meio bilhão, já foi dado pelo Equador.
O aspecto negativo é que fica mais distante o projeto estratégico de integração regional. E será a própria realidade que castigará o “bloco bolivariano” com o isolamento do mundo. Um dia, mais pobre e com instituições ainda mais frágeis, ele voltará a se integrar ao projeto.
Mas tudo poderia ser evitado.

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