Talento de aluguel
Os atletas brasileiros que, atrás do sonho olímpico,
aceitaram convites para competir por outros países
Sérgio Garcia
Leo Caldas/Titular |
Troca de bandeira Jorge e Renato: a dupla paraibana de vôlei de praia defenderá as cores da Geórgia, embora tenha ido ao país uma só vez |
As disputas do vôlei de praia nos Jogos Olímpicos vão contar com a presença recorde de seis duplas de jogadores brasileiros. Mas quem assistir às partidas pela televisão terá uma surpresa: duas dessas duplas estarão jogando com cores bem diferentes do tradicional verde-amarelo brasileiro. Os paraibanos Renato Gomes e Jorge Terceiro vão envergar uniformes vermelho e branco, representando a Geórgia, ex-república soviética. A outra dupla de brasileiros "estrangeiros" será formada pela paulista Cristine Santanna e pela amazonense Andrezza Martins, que também defenderão as cores da Geórgia. Como se justifica que quatro brasileiros representem outra nação nos Jogos Olímpicos? A explicação é que se tornou comum que países com pouca tradição em determinado esporte recrutem talentos em outros quadrantes do mundo. O convite vem acompanhado de apoio financeiro para que os atletas treinem e participem de competições internacionais. Para os atletas, obrigados a adquirir a cidadania do país que passam a representar, o convite pode significar a chance de participar de uma Olimpíada – o que talvez não acontecesse se disputassem a vaga com seus conterrâneos.
"Formamos a dupla por causa do sonho olímpico. O Brasil é um celeiro de feras no vôlei de praia feminino e fica difícil conseguir uma vaga", conta Andrezza. A pedido do presidente da federação de vôlei da Geórgia, Renato e Jorge adotaram os codinomes "Geor" e "Gia", como passaram a ser conhecidos no circuito mundial. O mesmo aconteceu com Cristine e Andrezza, que ganharam as alcunhas de "Saka" e "Rtvelo". O vôlei de praia não é o único esporte que contará com brasileiros representando outro país. Os irmãos cariocas Kiko e Felipe Perrone jogarão pela seleção espanhola de pólo aquático. Na troca de países pelos atletas, mui-tas vezes o dinheiro fala mais alto que o sonho olímpico. Nações do Oriente Médio como Catar e Barein usam seus petrodólares para atrair corredores africanos de elite – principalmente quenianos, etíopes, nigerianos e marroquinos. Os bônus oferecidos a eles por desempenho podem atingir centenas de milhares de dólares. A China, por sua vez, é grande exportadora de jogadores de tênis de mesa. A federação chinesa desse esporte conta com nada menos de 10 milhões de associados. Na Olimpíada, haverá jogadores chineses de tênis de mesa disputando partidas por países tão diferentes quanto Espanha, Argentina e República Dominicana.
Divulgação/FIVB |
Bom motivo |
Nem sempre os atletas adotados por outro país passam a residir nele. Renato e Jorge, a dupla de vôlei de praia brasileira que concorre pela Geórgia, só esteve por lá uma vez, em abril, e ficou apenas dois dias. Já Cristine e Andrezza, embora sejam cidadãs georgianas, nunca puseram os pés no país. Com a troca de nacionalidade de atletas, não será estranho se nos pódios de Pequim o ganhador de uma medalha ficar em silêncio quando for executado o seu hino nacional – ele pode nunca tê-lo ouvido.