DISCOS
THE AGE OF UNDERSTATEMENT,
The Last Shadow Puppets (EMI)
Miles Kane, guitarrista do The Rascals, fez uma participação especial em um disco do Arctic Monkeys – e desde então começou uma amizade musical com o vocalista da badalada banda britânica, Alex Turner. Dessa parceria nasceu este surpreendente disco. Inspirada no rock dos anos 70 e nas baladas de David Bowie e Scott Walker, a dupla consegue harmonizar a sisudez clássica da Orquestra Metropolitana de Londres, que tomou parte nas gravações, com elementos sonoros modernos. A sintonia do The Last Shadow Puppets é evidente na canção Standing Next to Me, na qual a dupla se reveza nos vocais com o entrosamento de quem tem longos anos de estrada (não é o caso: o disco foi gravado em apenas quinze dias).
COMME SI DE RIEN N'ÉTAIT, Carla Bruni (ST2)
Terceiro disco da cantora e modelo italiana (e primeira-dama da França), Comme si de Rien n'Était buscou inspiração na música francesa dos anos 60, atualizada com batidas de trip hop. Como não poderia deixar de ser, o disco veio embalado em algumas controvérsias. Em Tu Es ma Came, Carla Bruni compara a paixão por um amante (será o presidente Sarkozy?) aos efeitos da cocaína colombiana – o que gerou protestos da Colômbia. A voz de Carla, como sempre, não tem lá muito alcance, mas é suave e sensual. Ela sabe encontrar o tom tristonho adequado para revisitar You Belong to Me, canção dos anos 50 que já teve uma grande interpretação de Bob Dylan.
LIVRO
OS TIGRES DE MOMPRACEM, de Emilio Salgari (tradução de Maiza Rocha; Iluminuras; 336 páginas; 44 reais)
O italiano Salgari (1862-1911) foi um escritor de aventuras muito popular na primeira metade do século XX, especialmente em seu país – Umberto Eco lembra seus livros com um carinho irônico no romance A Misteriosa Chama da Rainha Loana. Os Tigres de Mompracem traz um de seus personagens mais marcantes: Sandokan, príncipe oriental que, depois de ver seu trono usurpado e sua família assassinada, se torna um pirata feroz. Acompanhado do fiel ajudante português Yanez (?!), Sandokan rouba navios ingleses, acumulando tesouros na sua ilha, Mompracem. Com paisagens exóticas e ornamentais, Os Tigres de Mompracem é uma ótima oportunidade de revisitar os prazeres da literatura de capa-e-espada.
DVDs
AS CHAVES DE CASA
(Le Chiavi di Casa, Itália, 2004. Dreamland)
Um pai que nunca conheceu seu filho trava contato com ele pela primeira vez de forma dificílima: o garoto tem paralisia cerebral, e precisa ser acompanhado até um hospital em Berlim. As chances de melhora não são boas; o pai, que se casou com outra mulher e acaba de ter com ela um bebê, está em território completamente desconhecido; e o menino, na ebuliência dos seus 15 anos, ao mesmo tempo escancara o coração para o pai e evita enxergar a gravidade de sua situação. Interpretado com gestos mínimos por Kim Rossi Stuart e pelo menino Andrea Rossi e dirigido com fineza cirúrgica por Gianni Amelio, do também recém-lançado em DVD A Estrela Imaginária, este drama belíssimo é tanto mais dilacerante quanto mais se recusa a lançar apelos fáceis para o espectador.
OS SETE SAMURAIS
(Shichinin no Samurai, Japão, 1954. Europa)
Atormentados por saber que, ao fim da colheita, bandidos virão roubar todo o seu provento, os camponeses de uma aldeia pensam em contratar samurais para defendê-los. Como os tempos são difíceis e guerreiros também precisam comer, conseguem juntar um grupo de sete, que vai de um mestre e seu pupilo ao fanfarrão Kikuchiyo (Toshiro Mifune, numa de suas atuações definitivas). Fã confesso de westerns – o que, no Japão dos anos 40 e 50, era um gosto exótico –, o diretor Akira Kurosawa concebeu este clássico entre clássicos, que só agora ganha edição decente em DVD, como uma versão nipônica do gênero (mais tarde, num maravilhoso exemplo de polinização cultural, ela serviria de base ao faroeste americano Sete Homens e Um Destino, com Yul Brynner e Steve McQueen). Cineasta operístico por excelência, Kurosawa desenvolve essa saga em todas as suas etapas, no decorrer de 207 minutos (a duração também é de ópera), até o sensacional clímax da batalha na chuva. Para ver, rever, e então ver de novo.
