NOVA YORK. Embora tenha tentado se colocar como um candidato de um mundo pós-racial, Barack Obama não conseguiu levar a campanha sem que o tema se transformasse em um ponto central das discussões e, embora tenha cerca de 90% de apoio entre os eleitores negros, é desse contingente que surgiram os primeiros problemas de sua campanha em relação ao assunto, ainda tão delicado. O mais recente foi provocado pelo rapper Ludacris na composição “Politics as usual” (A política de sempre), onde, a pretexto de convocar os eleitores a votar em Obama, fala em “pintar a Casa Branca de preto” e dirige ofensas a Hillary Clinton e John McCain.
O candidato democrata foi obrigado a criticar Ludacris, um ídolo do rap a quem elogiara em entrevista, embora criticando sutilmente seu machismo. Anteriormente, já tivera problemas com o pastor radical Jeremiah Wrigth, e com o veterano líder negro Jesse Jackson, que reclamou com palavras chulas de uma suposta tendência de Obama a não ser condescendente com os negros. Na sexta-feira, defrontou-se com manifestantes que levantaram um cartaz cobrando mais atenção aos problemas da comunidade negra.
Uma reportagem do “The New York Times” desta semana mostrou que desde 1994, quando lecionava na faculdade de Direito de Chicago, Barack Obama levava para suas classes discussões sobre políticas públicas envolvendo questões raciais, procurando sempre abrir um debate sobre alternativas multirraciais.
Uma das questões que levantou em classe, por exemplo, foi sobre a política de adoção de crianças negras, que alguns estados queriam limitar a pessoas negras, com o apoio de organizações sociais de trabalhadores negros, sob a alegação de que a adoção pela mesma raça daria à criança um senso de identidade mais forte.
O professor Obama opunha a esse raciocínio os que consideravam essa política racista e prejudicial às milhares de crianças necessitadas de adoção, inclusive famílias brancas interessadas em adotar crianças negras.
Colocando temas como esse em classe, Obama, dizem agora seus ex-alunos e antigos colegas professores, parece que estava testando suas próprias posições, numa espécie de treinamento para a carreira política que acabaria abraçando, em vez da carreira acadêmica, que não parecia ser seu destino já naquela época.
Esse tema de crianças negras sem família, aliás, foi o que levou às queixas do Reverendo Jesse Jackson, que depois se desculpou. Obama havia criticado num comício o fato, apontado por pesquisas, de que crianças negras são mais passíveis de crescer em lares sem pai, exortando os homens negros a assumirem suas responsabilidades diante da família.
Uma pesquisa do instituto Pew Research mostra que negros tendem a casar menos que os brancos, e a terem mais filhos fora do casamento.
Também a agência do Censo dos Estados Unidos mostra que crianças negras formam o único grupo mais provável de viver com uma mãe solteira do que em uma família com pai e mãe.
A crítica de Obama está respaldada não apenas em seu histórico de preocupação com o tema, mostrando sua coerência no debate.
Outra pesquisa mostra que Obama é visto pela grande maioria dos eleitores negros (72%) como um candidato que se preocupa com os problemas e necessidades de pessoas comuns. Entre os brancos, estas porcentagens são muito menores, 31% e 32%, respectivamente.
Jonas Zoninsein, professor da Universidade de Michigan, um estudioso das políticas de ação afirmativa, acha que Obama encarna as ambições dos liberais negros que tiveram sucesso em sua integração na sociedade americana desde os anos 1960.
“Obama entende que o franchise (concessão) para as minorias nos EUA é expansivo, que a institucionalidade da democracia americana tem condições de progressivamente incorporar todas as minorias, inclusive os negros”, ressalta Zoninsein, para quem “as lutas sociais, econômicas e políticas são necessárias, mas o sistema criado pelos fundadores da República funciona e funcionará, é uma questão de tempo, de políticas específicas, de negociações, de lideranças (no caso concreto, ele seria um destes líderes) que entendam os desafios do momento presente”.
O professor Jonas Zoninsein diz que Obama, no momento, encarna a síntese do multirracialismo na sociedade americana, uma tendência emergente que ainda estaria restrita a certos grupos, defendida principalmente pelos conservadores, com parentesco com o conceito da democracia racial no Brasil, e os que defendem a integração da minoria negra, sem assimilação à cultura anglo-saxônica.
“Neste sentido, Obama representa uma frente mais ampla que o Jesse Jackson.
Obama sendo filho de mãe branca, de classe média, intelectual, liberal, com pai negro do Quênia, muçulmano, não é um negro americano no sentido original da expressão. Isto em si pode ser relevante”.
As reações localizadas à essa nova liderança estariam mais à esquerda, nos líderes negros que têm duvidas e desconfiam dele. “Ele representaria uma ilusão de integração, portanto, reduzindo potencialmente seu apoio entre as comunidades negras empobrecidas, excluídas e isoladas socialmente”, que seriam um terço mais ou menos do total.
São essas organizações que protestam, como os de sexta-feira, exigindo de Obama uma posição menos pósracial, que ele não pretende assumir por entendê-la ultrapassada pela realidade.
Segundo o professor Zoninsein, “as negociações com organizações da sociedade civil e igrejas, assim como propostas concretas ao longo dos próximos meses, vão definir o que vai acontecer”, mas, no momento, o apoio entre as minorias negras a Obama é bastante sólido.
Entrevista:O Estado inteligente
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