Brasil
O reino do meio
Pesquisas confirmam a redução da pobreza e mostram
que mais de metade da população pertence à classe média
Ronaldo França
Antonio Milena/AE |
EFEITO POSITIVO Consumidores vão às compras: o aumento da renda e a queda da desigualdade fortalecem o mercado interno |
O tamanho da classe média está diretamente relacionado à saúde econômica e política das nações. A ascensão dessa camada social dinamiza o consumo, incentiva a produção e torna a economia mais resistente a turbulências externas. A classe média funciona também como um importante amortecedor de conflitos sociais, contribuindo para a estabilidade política. Por isso é tão positiva a notícia de que ela já representa 52% da população das regiões metropolitanas do Brasil – em abril de 2004, essa participação era de 42%. A conclusão é de uma pesquisa divulgada na semana passada pela Fundação Getulio Vargas, do Rio de Janeiro. Esse dado veio se juntar a outra constatação, feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também anunciada na semana passada: a de que 3 milhões de pessoas deixaram a faixa da pobreza. Significa que elas passaram a ganhar mais de 207,50 reais, per capita, por mês. Já se sabia que essas transformações estavam em curso. A boa notícia é que a tendência se mantém, o que projeta para o Brasil um futuro construído sobre alicerces mais sólidos.
Segundo o estudo do Centro de Políticas Sociais da FGV, coordenado pelo economista Marcelo Neri, embora o Brasil continue sendo um dos países mais desiguais do mundo, essa realidade começa a mudar (veja o quadro). A esse indicador soma-se outro, igualmente importante. Ele analisa a mobilidade social e mostra que esse fenômeno não é transitório. A probabilidade de um indivíduo que pertence à classe média manter-se nela é de 84,5% (era de 78,7% em 2003). Melhor ainda: os números mostram que a probabilidade de chegar ao topo da pirâmide social é maior do que a de descer e passar a compor as classes D e E. Os estudos da FGV e do Ipea apresentam números parecidos e indicam um movimento extremamente positivo. As causas que elencam são complementares. O Ipea enfatiza como principais fatores da redução da pobreza o aumento real do salário mínimo e os programas sociais, como o Bolsa Família. Já a FGV calcula que o crescimento do emprego formal, com carteira assinada, está na base do processo. Em um ano, a contar de junho de 2007, foi criado 1,8 milhão de empregos formais. O fato é que o país encontrou um trilho seguro. Melhor: conseguiu mostrar que o controle da inflação e a austeridade nos gastos públicos (ainda que estejamos longe do ideal) têm efeitos, sim, sobre a redução da pobreza. Basta manter-se nesse rumo.
Um país melhor
Graças à queda na desigualdade de renda que o Brasil iniciou com a estabilidade econômica e vem sustentando nos últimos sete anos, o porcentual de pessoas que se enquadram na classe média passou de 44,2% para 51,9% da população*.
Veja outras mudanças positivas:
RENDA MAIOR
A renda média das famílias brasileiras que vivem nas grandes cidades aumentou de 1 784 reais para 1 956 reais
MENOS POBRES
O porcentual de pobres e remediados (com renda familiar de até 1 064 reais) caiu de 42,8% da população para32,6%
MAIS RICOS
As classes A e B cresceram 33,6% entre abril de 2004 e abril deste ano
MENOR DESIGUALDADE
Entre 2002 e 2006, os 10% mais pobres tiveram aumento médio de 57% em sua renda, enquanto os 10% mais ricos tiveram aumento de apenas 6%
*Dados válidos para as seis principais regiões metropolitanas
Fonte: FGV