Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 09, 2008

Auto-Retrato Olivier Paget

Auto-Retrato
Olivier Paget

Carol Carquejeiro


Usar o mesmo perfume que todos estão usando, nem pensar. Pior ainda é correr o risco de alguém identificá-lo e alardear o seu nome e o do estilista que o assina. Para fugir desse lugar-comum, a saída são as fragrâncias feitas sob medida ou em edições limitadas. "A opção por elas tem crescido nos últimos dois anos", diz Olivier Paget, de 42 anos, perfumista da Mane, uma das casas de fragrância mais tradicionais da França, fundada há 137 anos, na Côte d’Azur. Ele falou à repórter Anna Paula Buchalla.

Qual é a origem dos perfumes exclusivos? Desde que as marcas de luxo se tornaram mais acessíveis – se não se pode ter um tailleur Chanel, há sempre a opção do perfume –, abriu-se para a indústria um novo mercado de fragrâncias sintéticas. Hoje há mais lançamentos de perfumes do que dias úteis no ano. São mais de 280 produtos sendo lançados anualmente. O perfume se tornou uma mercadoria altamente vendável porque suas variações são capazes de agradar a um maior número de pessoas. O problema é que os grandes fabricantes de cosméticos trabalham como se todas as mulheres fossem iguais. Elas não são. E agora começam a exigir tratamento individualizado.

O perfume de grife perdeu o glamour? Para um grupo específico de pessoas, perdeu, sim. São principalmente mulheres que adoram ouvir a pergunta: "Que perfume é esse que você está usando e eu não conheço?". O ego delas vai às alturas. Elas simplesmente não querem usar o que todo mundo está usando. Além disso, se não é um Chanel ou um Guerlain, as consumidoras ficam perdidas entre tantos lançamentos.

O que faz a diferença de um perfume exclusivo? A combinação de produtos naturais e raros. É o caso de flores como a mimosa, que só cresce no sul da França, perto de Grasse. Sua safra ocorre apenas durante três semanas no mês de fevereiro. Se chover nesses dias, boa parte da produção se perderá. Um gigante dos cosméticos jamais investiria em algo tão arriscado.

Mas há também quem queira apenas o prazer de ter um frasco luxuoso de uma edição limitada. Muitos consumidores estão querendo resgatar o tratamento que os perfumistas do passado davam a rainhas e reis, que recebiam fragrâncias criadas sob medida para eles. Não havia a exigência de preço nem de prazo. O trabalho do criador era basicamente artesanal.

Ainda se fazem perfumes à moda antiga? Há uma nova safra de perfumistas revivendo a exclusividade das fragrâncias, seja em produções em pequena escala, seja em produtos sob encomenda. Na Europa, muitos estão deixando as grandes empresas e abrindo suas próprias e exclusivíssimas perfumarias, nas quais vendem perfumes como antigamente. Um dos primeiros a fazer isso foi o parisiense Frédéric Malle, cujas criações são verdadeiras obras de arte.

A exclusividade custa muito mais caro? É caríssima. A Mane lançou no ano passado o Yu, cujo frasco em forma de gota, de 30 mililitros, custa 5 000 dólares. Foram apenas 500 peças distribuídas nos Estados Unidos. É lindo, maravilhoso, perfeito. Há perfumes de mais de 30 000 dólares.

Não existe um meio-termo entre o exclusivíssimo e o perfume feito em escala industrial? Um exemplo são as fragrâncias de Annick Goutal. A brasileira La Façon chegou bem perto disso. Criou recentemente seis fragrâncias consideradas raras e com pouquíssimos exemplares. Em uma delas, usou-se rosa-da-turquia, que custa 10 000 dólares o quilo. Antes de escolher o perfume, a cliente responde a um questionário para identificar o que combina melhor com seu perfil. Isso individualiza a compra e torna ainda mais difícil encontrar alguém com o mesmo perfume.

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