Phelps, o super-homem As características que diferenciam o corpo do
Os chineses podem dominar o quadro geral nesta Olimpíada, mas a estrela da festa é, definitivamente, um americano. Michael Phelps – o maior fenômeno da natação de todos os tempos, o atleta que mais ganhou ouros em olimpíadas, o homem que esgotou o repertório de superlativos do esporte – conquistou tantas medalhas em Pequim que mal teve tempo de guardá-las. A sexta da temporada, obtida na quinta-feira na prova dos 200 metros medley, na qual ele quebrou o 31° recorde mundial de sua curta existência de 23 anos, teve de ser enfiada às pressas no meio da jaqueta de aquecimento, já que, três minutos depois de ouvir o hino americano com ela no pescoço, Phelps já estava pulando novamente na piscina – dessa vez para disputar a semifinal dos 100 metros nado borboleta. "Só deu tempo de trocar de roupa, enfiar a touca, os óculos e embrulhar a medalha na jaqueta", disse. Perguntado por VEJA sobre quanto do seu sucesso ele atribui ao seu esforço, disciplina, treinamento e dieta e quanto se deve à sua aptidão natural, o nadador disse que seu desempenho é fruto da combinação de todos esses fatores. "Tento dormir o suficiente, me alimentar o suficiente e treinar o mais que posso. Além disso, há outras coisas que me favorecem, como a relação que tenho com o meu treinador, e, sim, claro, o jeito como eu nasci." Fazem parte desse "jeito" uma envergadura de mais de 2. metros, tornozelos extraordinariamente flexíveis, pernas mais curtas e leves que o normal e um trapézio excepcionalmente estruturado. Essas características não contrariam as tendências da evolução humana, não as antecipam e nem mesmo teriam grande importância se estivessem isoladas. Reunidas num único corpo, porém, produzem uma máquina de velocidade, força e propulsão fora do comum. O mesmo se dá em relação às suas habilidades. Phelps é extraordinário em modalidades que exigem aptidões e treinamentos totalmente distintos: nas provas curtas, que requerem velocidade; nas longas, que demandam resistência; e nos quatro estilos de nado (livre, borboleta, costas e peito). Essa versatilidade é o seu principal diferencial e vantagem. Enquanto a maior parte dos nadadores é especialista em uma determinada modalidade, e portanto precisa de várias olimpíadas para acumular títulos, Phelps arremata tudo numa competição só. "Mesmo em outros esportes, não é comum existirem atletas com aptidões tão múltiplas", diz o coordenador do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos da PUC-RS, Nelson Todt. O americano Carl Lewis, por exemplo, tornou-se um dos quatro únicos esportistas do mundo a acumular nove medalhas de ouro olímpicas. Competia no salto em distância e nas corridas de 100 e 200 metros do atletismo, mas não disputava provas de fundo. Phelps, ao contrário, se sai bem em várias distâncias na natação. Phelps não faz demagogia quando aponta o trabalho de Bob Bowman, seu treinador, como um dos elementos fundamentais para o seu sucesso. O gorducho Bowman era assistente em um clube de Baltimore quando decidiu investir em Phelps, então com 11 anos de idade. No ano em que a dupla começou a trabalhar, o menino bateu o primeiro de seus muitos recordes, nos 100 metros nado borboleta – estilo que até hoje é o seu preferido. Além de um técnico talentoso, Phelps encontrou em Bowman um semelhante. Assim como o nadador, o treinador é obcecado pela vitória. É ele quem coordena todo o treinamento de Phelps: dos exercícios físicos ao aquecimento, incluindo horários e dieta. E que dieta. Para nadar 80 000 metros por semana (dois treinos ao dia, seis dias por semana), Phelps consome incríveis 12 000 calorias diárias – 9 500 a mais do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Seu cardápio causaria arrepios a nutricionistas convencionais: é riquíssimo em gorduras saturadas, colesterol e carboidratos e muito pouco nutritivo (veja o quadro abaixo). Inclui fartas quantidades de macarrão, pão branco e pizza e nada de frutas e verduras. Se uma pessoa comum seguir a dieta Phelps por um ano, provavelmente terá problemas de saúde e certamente se transformará numa bola de gordura. Mas Phelps é Phelps. E, como o mundo pode ver, ele está longe de ser uma pessoa comum. É o super-homem americano. Com reportagem de Anna Paula Buchalla e Naiara Magalhães
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