Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 08, 2008

O crescimento da classe média editorial O Estado de S. Paulo





8/8/2008

Nas principais regiões metropolitanas brasileiras concentraram-se, no plano social, os efeitos mais nocivos da crise que o País viveu até o início da década passada. Desemprego, informalidade no mercado de trabalho, aumento da miséria e violência marcaram a história recente das metrópoles, e se mantinham até há pouco. São Paulo foi um dos exemplos mais notáveis da deterioração das condições de vida nas grandes cidades. Agora, com a retomada do crescimento, é nelas que surgem os melhores resultados.

Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) constatou que, em seis regiões metropolitanas - São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre -, diminui o número de pobres, cresce a proporção das famílias de classe média e aumenta também a porcentagem de famílias de renda alta. Segundo a pesquisa, não é uma melhora passageira, como ocorreu em outras épocas. Há solidez no processo de ascensão social nas metrópoles, o que deve assegurar sua continuidade.

Baseado em números da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, combinados com os dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) do Ministério do Trabalho, o estudo constatou que, desde que foi superado o período de desaceleração da economia, ocorrido em 2003, primeiro ano da gestão Lula, a pobreza vem diminuindo.

É o inverso do que ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, época do chamado “milagre brasileiro”, quando o crescimento econômico era acompanhado do aumento da desigualdade social. Diziam as autoridades, para justificar esse modelo, que era preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo. O que se observa agora, diz a FGV, é que “o bolo continua crescendo com mais fermento nas classes mais pobres há mais de cinco anos, combinação inédita na história brasileira estatisticamente documentada”.

O processo demonstra grande vigor. De cada cem trabalhadores considerados em situação de miséria em janeiro deste ano, 32 tinham conseguido aumentar sua renda o suficiente para serem classificados em classes mais altas quatro meses depois. É um bom sinal de redução da pobreza, que se verifica desde 2004. Em abril daquele ano, das famílias das seis regiões metropolitanas pesquisadas, 46,13% estavam na faixa de pobres ou remediados. Em abril deste ano, a fatia se reduziu para 32,59%.

Cresce, por isso, a faixa considerada de classe média - família com renda mensal entre R$ 1.064 e R$ 4.590 -, que, conforme o estudo, em abril deste ano já abrangia 51,89% das famílias dos trabalhadores das seis regiões metropolitanas. Quatro anos antes, apenas 44,19% das famílias dessas metrópoles eram consideradas de classe média. Também aumentou a fatia das famílias que compõem a elite dessas regiões - famílias com renda mensal superior a R$ 4.591. Era de 11,59% do total em abril de 2003 e, quatro anos depois, passou para 15,52%.

Também o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou estudo sobre a evolução da renda dos trabalhadores das seis regiões metropolitanas e, como os dados básicos são os mesmos, sua conclusão não poderia ser diferente daquela a que chegou o trabalho da FGV. O que muda, num trabalho e noutro, é a explicação para o processo de redução das desigualdades sociais e aumento da classe média nas metrópoles. Hoje dirigido por um economista vinculado ao PT, Márcio Pochmann, o Ipea deu ênfase ao papel das políticas do governo Lula de transferência de renda, especialmente o Bolsa-Família, e de correção do salário mínimo e dos benefícios previdenciários na melhora das condições de vida dos mais pobres.

É inegável que as políticas de transferência de renda têm um papel essencial no processo de redução da pobreza absoluta. Mas elas, isoladamente, não são suficientes para fazer crescer a fatia da classe média brasileira, que, como parcela da população total, já é proporcionalmente comparável à norte-americana - comparação que, evidentemente, não pode ser feita em termos de renda. A explicação para o aumento da classe média é, como deixa claro o estudo da FGV, a recuperação do mercado formal de trabalho. Como afirmam os autores do estudo, “a volta da carteira de trabalho talvez seja o elemento mais representativo do ressurgimento de uma classe média brasileira”.

Arquivo do blog