Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 16, 2008

Madonna pelo avesso


Sem maquiagem

Novas biografias expõem os problemas de Madonna, 
como a obsessão pela ginástica e a crise no casamento


Marcelo Marthe

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Exclusivo on-line
• Trecho do livro

Madonna vive um momento especial. No sábado 16 ela celebra 50 anos – e poucas mulheres chegam a essa idade com sua beleza e vigor. No sábado seguinte, 23, a cantora americana dá um novo passo numa carreira que já dura 25 anos. Com 200 milhões de discos vendidos e uma fortuna de 400 milhões de dólares, Madonna poderia sossegar. Mas vai cair na estrada numa megaturnê que começa naquela data e deverá passar pelo Brasil em dezembro. Duas novas biografias reafirmam o que salta aos olhos: seu sucesso vem da determinação, da disciplina férrea e de um senso de oportunidade incrível. MasMadonna: 50 Anos (tradução de Inês Cardoso; Nova Fronteira; 554 páginas; 59,90 reais), lançado na Inglaterra em 2007 e agora no Brasil, e Life with My Sister Madonna (A Vida com Minha Irmã Madonna), recém-publicado nos Estados Unidos, chamam mais atenção por outro aspecto: eles lançam luz sobre a Madonna mortal, com todos os seus defeitos e dissabores. No primeiro, a jornalista Lucy O’Brien mostra como a busca da cantora por um corpo livre de gordura se tornou uma fixação que vai além do bom senso. E expõe sua solidão. "Madonna está condenada a dois tipos de companhia: os acólitos e as pessoas que se sentem esmagadas por seu ego", disse ela a VEJA. No último caso inclui-se o marido, Guy Ritchie. E também o irmão mais novo, Christopher Ciccone – que, no segundo livro, faz um relato nada fraternal de sua relação com ela.

Como aponta Lucy O’Brien, Madonna sempre usou o trabalho e a atividade física como válvulas de escape. Ela faz ao menos três horas de exercício por dia, e não relaxa. Tempos atrás, em temporada de férias numa ilha no Oceano Índico, passava os dias malhando na academia, enquanto o marido e os três filhos curtiam a praia. Em flagrante recente, uma Madonna de camiseta e sem maquiagem exibia uma magreza etíope. A biógrafa mostra os efeitos desse exagero. Pouco antes de adotar um bebê africano, em 2006, a cantora se desesperou por não conseguir engravidar. Sua fertilidade foi comprometida pelo excesso de ginástica.

A vida afetiva é outro carma. Não é de hoje que Madonna e Guy Ritchie emitem sinais de que o casamento vai mal. Dez anos mais velha que o marido, ela já confidenciou a amigos que se sente insegura quanto a seu poder de atração. Ritchie, por sua vez, não suporta o papel de coadjuvante da esposa. Em nome dos filhos, os dois já tentaram até a terapia de casais (aparentemente, a única coisa que ainda os une é o culto à cabala). Christopher Ciccone tem sua parte nas dificuldades do casal. O encontro do machão Ritchie com o cunhado gay foi um caso de ódio à primeira vista. Ciccone sempre viveu à sombra da irmã, mas foi expulso de seu convívio por causa das rusgas com Ritchie e do vício em cocaína. O troco do mano veio na forma da biografia. Ele posa de vítima e traz à tona toda sorte de ressentimento – mas é inegável que seja um observador com conhecimento de causa. A Madonna que sai de seu relato é controladora. Uma criatura que o irmão não se cansa de chamar de "mandona".


LIVROS  

Trecho de Madonna: 50 anos, de Lucy O´Brien

“O visual para a turnê Blond Ambition não dava descanso a Madonna. Segundo seu preparador físico na Inglaterra, Jamie Addicoat, para que atingisse uma forma física improvável como aquela, a rotina de exercícios tivera que se tornar insana.

— Madonna estava a ponto de queimar completamente todas as gorduras
do corpo — disse ele. — Ela fazia cinco horas de treinamento físico por dia (duas horas de corrida, uma na academia e duas no palco), o que é mais do que a maioria dos atletas profissionais faz. A situação chegou ao ponto de o percentual de gordura de seu corpo cair a um nível muito abaixo do considerado saudável para uma mulher.

Para Madonna, esse era um preço pequeno a pagar por um espetáculo que ela controlava do início ao fim. A concepção de Blond Ambition era inteiramente dela.

— Muitos meses antes da turnê, ela me mostrou um bloco cheio de anotações e desenhos que ela mesma fizera. Madonna concebera tudo sozinha — lembra o diretor de iluminação Peter Morse. — O show era uma versão ao vivo do que estava no bloco de anotações. — Ele admite que foi um desafio: — As cenas mudavam de maneira inacreditável de um cenário para outro. De uma cidade que gira em torno de uma fábrica para uma escadaria bela e enorme; depois surgiam pilastras de verdade, como as de uma catedral. Nada no show era usado duas vezes. Foi um desafio criar um sistema de iluminação que desse conta
de tudo aquilo.

Extravagância como essa é algo habitual hoje em dia, mas em 1990, nada parecido tinha sido feito num show de música pop.

— Essa foi uma grande mudança para o público de shows em geral. Ela criou um caminho e uma direção que nunca haviam sido percorridos antes — diz Morse. A jornada das trevas em direção à luz trilhada por Madonna estreou no estádio de Makuhari, no Japão, em abril daquele ano. Desde o início, as pessoas se mostravam curiosas.”

“As cenas de sexo e de religião eram tão fortes que quando a turnê chegou a Toronto, a polícia local ameaçou prender Madonna por obscenidade se ela mantivesse aquelas cenas no show. Em resposta, ela apimentou ainda mais a seqüência da masturbação. Depois de tanto tumulto, a Polícia Montada canadense manteve certa distância e o show aconteceu sem qualquer transtorno. Na Itália, Madonna também enfrentou resistência. Grupos católicos incentivaram um boicote ao show. Eles foram bem eficientes, pois a Itália foi o único país em que os ingressos para Blond Ambition não se esgotaram.”

 


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