Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 23, 2008

Etapa decisiva Merval Pereira

NOVA YORK. A campanha presidencial americana entra em sua fase decisiva na próxima semana, quando democratas e republicanos formalizarão a escolha de seus candidatos. Este ano há algumas novidades que podem influenciar na repercussão política das escolhas, a começar pelo fato de que, pela primeira vez, os dois partidos farão suas convenções em seguida — os democratas de 24 a 29 deste mês em Denver, no Colorado, e os republicanos, de 1 a 6 de setembro em St. Paul, Minneapolis. Historicamente, após a convenção, o candidato desafiante pode ganhar até dez pontos nas pesquisas eleitorais, e também o partido que realiza a convenção por último leva uma vantagem, pois pode neutralizar o ganho do adversário. Não se sabe qual será o efeito de uma convenção seguida da outra.

Também pela primeira vez um dos candidatos, o democrata Barack Obama, fará o discurso de aceitação em um estádio, o Invesco Field, com capacidade para 75 mil pessoas.
Esses momentos são sempre muito emocionais, e Obama está jogando tudo nos seus recursos de oratória para voltar a ter uma diferença sobre o adversário John McCain, que nos últimos dias conseguiu reverter a situação e já é apontado como o líder em algumas pesquisas de opinião.
Uma novidade com cada vez menos chance de acontecer seria o anúncio da senadora Hillary Clinton como sua vice. O nome do companheiro (a) de chapa de Obama, que estaria escolhido, seria anunciado este fim de semana.
O mais cotado até a noite de ontem era o senador Joe Biden, um especialista em política externa e presença forte no mundo político de Washington, o que demonstraria que Obama teria optado por uma escolha tradicional, com capacidade de neutralizar a ação política do clã Clinton na capital.
Apenas duas vezes na história das primárias adversários do mesmo partido reconciliaram-se, formando uma chapa vencedora: John F. Kennedy escolheu Lyndon Johnson como seu companheiro de chapa em 1960 e Ronald Reagan colocou George Bush pai em 1980.
A escolha de L yndon Johnson foi a mais surpreendente, e também a mais fundamental para a vitória do Partido Democrata. Naquele ano Kennedy derrotou Richard Nixon, o candidato republicano, por 0,2% dos votos, e muitos acreditam que, muito mais do que a performance de Kennedy no debate de televisão, se não fosse o controle absoluto que Johnson tinha do Partido Democrata no Texas, eles não teriam vencido.
Embora tenha se mostrado um companheiro de chapa cooperativo, Johnson, um texano milionário e rude, nunca escondeu suas diferenças de Kennedy, especialmente com relação ao elitismo intelectual que ele levou para a Casa Branca.
Quando assumiu a Presidência, com o assassinato de Kennedy, Johnson costumava despachar com os intelectuais antigos assessores de Kennedy sentado na privada.
Já Reagan chamou George Bush pai para sua chapa para unir o partido, embora haja um consenso sobre o fato de que venceria fosse qual fosse o candidato a vice, tal sua popularidade.
O mais provável, porém, é que aconteça com a senadora Hillary o que aconteceu com o mesmo Reagan em 1976, quando perdeu a indicação do Partido Republicano para Gerald Ford e permaneceu sem apoiá-lo, o que muitos consideram ter sido fator fundamental para a derrota de Ford para Jimmy Carter. Quatro anos depois, Reagan era escolhido o candidato republicano e derrotaria Jimmy Carter.
Há quem veja na atitude permanentemente hostil por parte dos Clinton a tentativa de se manter como uma alternativa viável para os democratas em caso de derrota de Obama em novembro, ou se um futuro eventual governo democrata vier a ser um fracasso, exatamente como no caso de Carter, que muitos vêem com semelhanças a Obama.
Causam desconforto nos partidários de Barack Obama dentro do partido as muitas exigências que foram obrigados a aceitar, até mesmo incluir o nome da senadora Hillary Clinton na cédula de votação para que os delegados seus partidários possam votar nela.
Oficialmente, ela pede espaço para “uma catarse” de seus eleitores. Mas há quem relembre que, ainda durante as primárias, ela, num ato falho para justificar sua insistência em não desistir da candidatura apesar da dianteira de Obama, lembrou que Bob Kennedy estava praticamente escolhido candidato quando foi assassinado em junho.
Embora os dois candidatos comecem a campanha oficial das convenções com bastante dinheiro em caixa, os partidos tiveram dificuldades semelhantes para levantar dinheiro para as festas grandiosas que estão promovendo.
O mais afetado, porém, foi o candidato Barack Obama, que teve que aceitar que o partido pedisse financiamento a empresas, sindicatos e associações, usando a legislação do “soft Money”, que permite o financiamento aos partidos, e não diretamente aos candidatos.
Obama, que recusou o financiamento público que dará a McCain nada menos que U$ 84 milhões nesta parte decisiva da campanha, sempre criticou a utilização dessa brecha legal, mas teve que encarar o fato de que os US$ 60 milhões necessários para cobrir as despesas da convenção não surgiriam se não por intermédio de grandes contribuições.
O Partido Democrata está vendendo lugares em camarotes especiais no estádio para ouvir o discurso de aceitação de Barack Obama e contribuições de U$ 1 milhão dão direito, além de lugares especiais no estádio, a hotéis também especiais e até mesmo a encontros com assessores do candidato democrata.

E-mail para esta coluna: merval@oglobo.com.br

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