O Estado de S. Paulo |
5/8/2008 |
Não é a primeira e provavelmente não será a última vez que o ministro da Justiça, Tarso Genro, diz ou faz alguma coisa errada sem a menor necessidade. Há exemplos de sobra em sua trajetória passada e presente. Mas agora com essa história de tornar urgentes as punições de militares que cometeram crimes na ditadura ele se superou. Por carência de percepção ou afã de abraçar uma causa de destaque, acabou dando a oficiais da reserva sem outra ocupação senão a de vocalizar recalques da corporação uma oportunidade de ouro para se imiscuir na vida política do País. A conversa do ministro com a Comissão de Anistia, na semana passada, tenderia a ficar restrita ao campo da equivocada inversão de prioridades, dada a aflição dos cidadãos com a incapacidade do poder público de lidar com os crimes comuns cometidos aqui e agora. A veemência do ministro obrigou seu colega da Defesa, Nelson Jobim, a desmenti-lo como precaução. Em vão, pois o Clube Militar está sempre ávido por uma agenda. E que agenda! Se não for uma bravata, a convocação de seminário para discutir o “passado terrorista” de autoridades do governo Lula e a hipótese de puni-las por participação em atos de violência tem potencial altamente constrangedor. A reação militar foi desproporcional. Anônima até agora, descompromissada e, por isso mesmo, perigosa. Parte de quem não tem nada a perder. Divulgaram uma lista de todos os “terroristas” passíveis de punição e, na base do olho por olho, trataram-nos como meliantes. E isso para quê? Para absolutamente nada, pois daqui até a prometida reunião haverá o deixa disso regulamentar. Se não houver, pior para todos. O Brasil discutirá algo não prioritário para a geração atual, terá de entrar no debate sobre a abertura dos arquivos da ditadura e daí para uma saia-justa geral é um pulo. Ou alguém acha que todas as indenizações milionárias já pagas resistirão à luz da verdade? Gente que levou milhões de repente poderá ter revelada uma atuação de combate bem menos valiosa. Essas coisas são como aquele lugar comum sobre CPIs: nunca se sabe o que vem pela frente. Como ministro da Justiça já se viu que o gaúcho Tarso Genro não influi nem contribui. Em algum momento falou ligeiramente a respeito de um plano nacional de segurança pública, mas não desenvolveu o tema, muito menos executou qualquer ação. Nunca funcionou ao molde do antecessor como advogado do governo nas causas periclitantes e, como colaborador na articulação com os outros Poderes, já mostrou preferência pelo atrito. Que não se despreze, porém, o talento de Tarso Genro porque não há na República ninguém capaz de embarcar numa canoa furada com tanta convicção. Zarpou para Mônaco assim que Salvatore Cacciola foi preso. Na maior seriedade, mas para nada, além de proporcionar à autoridade do principado momentos de ironia. Defendeu dossiês contra adversários políticos como algo corriqueiro e, antes, quando na oposição, capitaneava a campanha “Fora FHC” enquanto a cúpula do PT fazia o caminho inverso, ciente de que a madeira um dia bate em Chico e no outro em Francisco. Se a motivação de Tarso Genro é, como dizem seus colegas petistas, ganhar espaço para vir a ser candidato, o caso é mais grave que a possível crise. Maquinário O prefeito Gilberto Kassab parece ter resolvido que vale a pena dar um pouco de sorte para o azar. Primeiro, registrou em e-mail uma tentativa de produzir boas avaliações em pesquisas usando o instrumental da prefeitura. Depois, reuniu assessores para organizar mutirão eleitoral. Uma conduta, no mínimo, descuidada em relação aos limites do uso do cargo. Se o prefeito se espelha no exemplo federal, que usa, abusa e não sofre conseqüência alguma, conviria notar que o salvo-conduto tácito à transgressão conferido ao presidente Lula e companhia não necessariamente se estende a todas as excelências. Ademais, em São Paulo o PT é oposição, não brinca em serviço nem é tão gentil quanto seus oponentes no plano federal. Piloto automático É fato que a largada de Gilberto Kassab frustrou expectativas de tucanos aliados ao governador José Serra. Mas não é isso que mantém Serra distante das atividades da campanha. Pouco antes das convenções que oficializaram as duas candidaturas Serra havia avisado que faria uma declaração formal de simpatia a ambos e depois desapareceria dos palanques. A intenção de Serra é ficar longe da confusão. Tenha ela caráter de derrota ou mesmo de vitória. Se Kassab estivesse bem e Geraldo Alckmin mal, ainda assim o governador não poderia circular ao lado do prefeito. A explicitação da preferência em plena campanha só faria da conturbação na já suficientemente conturbada nação tucana o assunto da estação. Bilhete premiado para o PT. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, agosto 05, 2008
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