Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 05, 2008

Celso Ming - Sinuca de bico




O Estado de S. Paulo
5/8/2008

Os bancos centrais dos países ricos estão numa típica sinuca de bico. Têm de combater a estagnação e isso exige juros baixos. Mas têm, também, de atacar a inflação e isso pede puxada nos juros. O resultado tende ao impasse.

Hoje o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reunirá seu Comitê de Política Monetária (Fomc, na sigla em inglês) para reexaminar o tamanho dos juros. Quinta-feira será a vez do Banco Central Europeu (BCE).

O Fed está encurralado por um terceiro problema: o aprofundamento da crise hipotecária num ambiente de trombose do crédito. O patrimônio dos grandes bancos derrete. Já perderam cerca de US$ 400 bilhões em eliminação de créditos podres (non-performing loans) e continuam sofrendo deterioração do valor das hipotecas. Apenas no mercado americano, são empréstimos de aproximadamente US$ 12 trilhões sob forte desvalorização em conseqüência da queda dos preços dos imóveis. Para não perder ainda mais, o mutuário prefere entregar a casa com tudo o que já desembolsou para pagar o banco. As desistências levam à execução das hipotecas e à revenda do imóvel pelo banco, o que acentua a derrubada dos preços. Nessa paisagem, a alta dos juros contribuiria para produzir estragos ainda maiores.

Por isso, a decisão esperada do Fed é a manutenção dos juros básicos (Fed funds) em 2% ao ano. Como a inflação americana avança para a casa dos 5% ao ano, vê-se que são juros reais negativos que tendem a aprofundar a inflação e demais distorções.

CONFIRA

Ataque aos juros - Ontem, o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira voltou a defender a redução das despesas públicas como melhor mecanismo para reduzir os juros e reequilibrar a produção.

Para Bresser-Pereira, o câmbio está fora do lugar porque os juros altos demais atraem capitais externos e valorizam excessivamente o real. E os juros estão assim porque o Banco Central está sendo sobrecarregado no combate à inflação.

Um a um, os economistas identificados com as posições heterodoxas vão convergindo para soluções antes tidas como tipicamente ortodoxas.

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