7/8/2008 |
A começar dos Jogos de Tóquio, em 1964, os primeiros a serem transmitidos via satélite, as Olimpíadas se superaram a si mesmas. No período histórico em que, graças à tecnologia das comunicações, o esporte se consagrou como o mais popular dos espetáculos, a mais grandiosa competição esportiva concebida pela humanidade se transformou inexoravelmente, por sua vez, no maior evento singular do globo. No confronto atlético, os países projetam a cada quatro anos as suas identidades, culturas, valores e aspirações: a ascensão dos vitoriosos ao pódio, as medalhas recebidas, o som dos hinos que exaltam a nacionalidade dos melhores entre os melhores - tudo isso faz troça do mote ingênuo “O importante é competir”, do criador dos Jogos da Era Moderna, o Barão de Coubertin. O essencial, para governos e povos, é vencer. Mas a disputa pelo reconhecimento mundial não se trava só nas pistas, quadras, campos, raias e ruas do palco para a apoteose da aptidão física de homens e mulheres celebrando as suas bandeiras. Começa, a rigor, sete anos antes, quando o Comitê Olímpico Internacional confere a um Estado a formidável distinção e a não menor responsabilidade de realizar a Olimpíada seguinte à próxima. Preterida em favor da Austrália para promover o festival do ano 2000, a República Popular da China foi à forra em 2001, já em plena marcha para se tornar a superlativa usina econômica do novo século. Com a escolha de Pequim, prevaleceu em boa medida a esperança de que o coroamento simbólico do processo de integração à ordem global da outrora aferrolhada economia chinesa incentivaria a ditadura comunista a dar um grande salto também para a abertura política. Para dobrar os que invocavam o massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, e aqueles a quem repugnava a idéia de um regime totalitário sediar uma Olimpíada - pela primeira vez desde os boicotados Jogos de Moscou, em 1980 -, os dirigentes chineses se comprometeram explicitamente a afrouxar a mordaça sobre os meios de comunicação, a liberar os sites bloqueados e a respeitar os direitos humanos. Balela. O efeito mais evidente da aprovação a Pequim tem sido o recrudescimento das práticas repressivas contra os setores da população que, talvez por não terem lucrado tanto quanto outros com o chamado capitalismo autoritário chinês, não se renderam ao cinismo dos estratos novos-ricos. Por exemplo, as famílias que perderam as crianças no terremoto de Sichuan, em maio, porque as suas escolas não tinham a solidez daquelas reservadas para os filhos da elite. Nos meses recentes - enquanto se completavam as deslumbrantes construções para os jogos que consumiram a maior parte dos US$ 40 bilhões destinados a sua realização -, dezenas de internautas eram presos, manifestações pacíficas eram reprimidas (entre elas as dos pequineses deixados sem teto pelas obras olímpicas) e a censura à internet se acentuava. E daí? Daí nada. Salvo por alguma tragédia inimaginável nas próximas semanas, o regime colherá a grande vitória que buscava com o rito das Olimpíadas. Nada menos do que a diplomação do país como potência de primeira grandeza, um triunfal acerto de contas com o passado de injustiças e sujeições que lhe foram impostas pelas potências ocidentais (e o Japão), com a conseqüente atrofia do arraigado sentimento de inferioridade que data da derrota chinesa nas Guerras do Ópio, em meados do século 19, e se agravou com o contraste entre a esqualidez da China maoísta e a modernização dos vizinhos asiáticos. Decerto para ampla maioria dos chineses, em qualquer parte do mundo, a memória da humilhação nacional e o orgulho pela proeza reparadora dos jogos remetem a plano secundário a inexistência de democracia na pátria-mãe. A argamassa que une a nação chinesa e a torna condescendente com a ditadura é o nacionalismo exacerbado, cuja virulência ficou escancarada na fúria popular contra a mídia estrangeira, por sua cobertura da rebelião no Tibete, em março, e contra os protestos que acompanharam em seguida o percurso da tocha olímpica em diversas cidades ocidentais. Com a economia nas alturas, os ganhos sem precedentes no padrão de vida de incontáveis milhões e, por fim, o apogeu da Olimpíada, o regime realiza a mítica ambição chinesa por fuqiang - riqueza e poder. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, agosto 07, 2008
A diplomação da China em Pequim editorial O Estado de S. Paulo
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