Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 03, 2008

Augusto Nunes-SETE DIAS


Delúbio acha que vai ser Maluf


ELE VOLTOU ­ O craque do mensalão subiu aos palanques de onde o campeão nacional nunca desceu
"Ele estava feliz como pinto no lixo", teria o cantor Jamelão repetido a perfeita síntese da passagem de Bill Clinton pela Mangueira se estivesse vivo para ver o homem empoleirado no palanque em Goiânia. Ao lado do prefeito Iris Rezende, em marcha acelerada para a conquista do segundo mandato, lá estava Delúbio Soares ­ o "nosso Delúbio" do presidente Lula, o ladrão que chama de "recursos não-contabilizados" o produto do roubo, o chefe da quadrilha do mensalão. Ele mesmo. Tão risonho quanto Clinton na Mangueira. Ambos festejaram a sensação de liberdade. No Rio, o presidente americano estava longe de Hillary e no meio de um batalhão de mulatas. No comício de quinta-feira, o gatuno goiano estava longe da polícia e dos tribunais, no alto do palanque do favorito e no meio de possíveis patrocinadores, patrocinados e parceiros. É disso que Delúbio gosta, é isso o que Delúbio quer. Como nos bons tempos, aceitara um convite da estrela do elenco. Iris avisou que ficaria honrado com a presença do aliado que costurou a aliança entre o PMDB de Iris e a seção goiana do PT ­ o mesmo partido que expulsou Delúbio em 2005. Como as vacinas e as leis, no Brasil também punições partidárias às vezes não pegam. "Essa coisa de mensalão vai acabar virando piada de salão", avisou Delúbio um ano depois de desbaratado o esquema que produziu o mais medonho episódio da história político-policial brasileira. Não pensava em vacinas no momento da profecia. Pensava na expulsão de araque, forjada para que fossem esquecidos dezenas de comparsas. Pensava na Justiça, que jamais castiga quem pode comprar roupas de grife e alugar advogados espertos. E pensava na memória curta do país. Estava certo, constatou no comício em Goiânia. Dois anos depois de divulgado o relatório em que o procurador-geral da República radiografou a "organização criminosa sofisticada", um ano depois da aprovação pelo STF do processo contra os mensaleiros, Delúbio exibia, entre um sorriso e outro, a inconfundível placidez dos condenados à impunidade. Durante o curto degredo numa fazenda, é provável que tenha despertado no meio da madrugada com medo do carcereiro ou dando cabeçadas numa grade. Para exorcizar pesadelos, certamente amparou-se no caso exemplar de Paulo Maluf. Na mesma noite de quinta-feira, enquanto Delúbio comemorava em Goiânia quase 10 anos de impunidade, Maluf reapareceu em São Paulo cavalgando o cartel admirável. Aos 76 anos, há 37 na vida pública, enfrentou quase 150 processos. Só dormiu na cadeia 40 noites. No debate entre os candidatos à prefeitura paulistana, não houve menções às sete ações judiciais que, em repouso no STF e em instâncias inferiores, envolvem Maluf em delinqüências que vão da improbidade administrativa à formação de quadrilha ou bando, de crimes contra o sistema financeiro e à paz pública à ocultação de bens ou valores. O ícone dos fora-da-lei da classe executiva vai perder a eleição. Mas venceu a Justiça ao forçá-la a engolir a candidatura do campeão brasileiro da ficha suja. Ele trava duelos com tribunais há 40 anos. Ganhou todos. Pelo sorriso no palanque, Delúbio acha que vai ser Maluf.

A agonia vai durar um pouco mais

Um top-top-top
para Raúl Reyes
Extraídas da copiosa corres- pondência armazenada no computador do terrorista colombiano Raúl Reyes, as 85 mensagens que vinculam as Farc a figurões do governo brasileiro foram qualificadas de "irrelevantes" pelo guerrilheiro honorário Marco Aurélio Garcia. Uma delas revela, por exemplo, que a mulher do embaixador das Farc em Brasília ganhou um cargo de confiança no Ministério da Pesca para sustentar o marido e dar aulas de comunismo a pescadores. Para Garcia, isso não vale mais que um top-top-top. Como a queda daquele avião da TAM.

Faltou combinar com o inimigo

O médico que comunica ao paciente na UTI que a doença é mesmo incurável, e segue fazendo estragos, não pode ficar feliz com a ressalva: o tempo de sobrevida dobrou, e a morte chegará não em três meses, mas em seis. A dilatação do prazo da agonia não merece comemorações, certo?. "Não estamos comemorando", concordou o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, depois de divulgar o mais recente balanço sobre a destruição da Amazônia. Segundo o Inpe, os inimigos da floresta seguem na ofensiva, só que sem tanta pressa: as dimensões do desmatamento de junho foram menores que as registradas nesse mesmo mês no ano passado. Em 2007, quando os foguetórios e as quadrilhas chegaram ao fim, 1.096 quilômetros de selva haviam sido esquartejados. Agora, o ataque do exército da motosserra foi 55% menos feroz: sumiram da face da Amazônia 870 quilômetros quadrados de árvores. Em vez de um Rio de Janeiro inteiro, amputou-se da mata uma área equivalente a três terços do território carioca. Má notícia, entenderam até as sucuris de quartel. "Só vou ficar satisfeito", concordou Minc, "quando o índice de desmatamento chegar a zero". Até lá, os balanços do Inpe confirmarão a cada mês que a Amazônia não acabará tão cedo, mas está mantida a condenação à morte. Para garantir a vitória da família na disputa pela prefeitura de Fortaleza, os irmãos Ciro e Cid cravaram um palpite duplo. O deputado tirou férias do comando do PSB cearense para apoiar a ex-mulher e senadora Patrícia Saboya, candidata do PDT. Não poderia admitir a reeleição de Luizianne Lins, explicou Ciro Gomes, porque a atual prefeita fez de Fortaleza "um puteiro a céu aberto". Cid Gomes decerto discorda do parecer, sugere o acordo fechado entre o PT de Luizianne e o PSB do governador, premiado numa das cláusulas com o direito de indicar o candidato a vice-prefeito. O escolhido foi Tin Gomes, primo de Ciro e Cid. Grande jogada, festejaram os irmãos. Fosse quem fosse a vencedora, a prefeita de Fortaleza estaria nos palanques de 2010 ao lado do governador em campanha pelo segundo mandato ­ e Cid teria tempo de sobra para anabolizar a candidatura presidencial de Ciro. Faltou combinar com Moroni Torgan, candidato do DEM, que só mulheres chegariam ao segundo turno. As pesquisas da semana mostraram Luizianne e Moroni na liderança, seguidos de longe por Patrícia. Se as coisas não mudarem, Ciro Gomes terá de fazer uma escolha penosa: ou apóia um inimigo histórico ou a fundadora do maior bordel sem telhado do mundo

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