Coluna - Coisas da Política |
Jornal do Brasil |
13/8/2008 |
Eles precisam saber disso, entusiasmei-me já apertando o botão do elevador sem ter ainda terminado a leitura da reportagem. Estava ansioso por transmitir aos porteiros, aos garagistas e ao faxineiro a notícia extraordinária: da noite para o dia, literalmente, a turma inteira havia subido na vida. A informação chegara pendurada nas manchetes de todos os jornais, que festejavam o acontecimento histórico em duas ou três páginas da edição de 6 de agosto. Na manhã daquela quarta-feira, em companhia de milhões de brasileiros, os funcionários do prédio onde moro haviam deixado de ser o que eram na véspera. Mas ainda não sabiam disso. Precisavam saber o quanto antes. Encontrei na guarita dois porteiros e o faxineiro jogando conversa fora. "Vocês ganham mais que mil e sessenta e quatro reais por mês, certo?", conferi enquanto mirava discretamente o gráfico no jornal que levara como prova. Os três não responderam. Pareciam desconfiados. Brasileiros aprenderam faz tempo que números quebrados acabam arredondados por malandragens. "Mais de mil e cem?", simplifiquei. Sim, confirmaram os acenos de cabeça. Caprichei na imitação de Silvio Santos anunciando o tamanho do prêmio em dinheiro que o calouro acaba de receber e, pausadamente, retransmiti a notícia formidável: "Vocês agora são da classe média". Cada um olhou para os outros dois com cara de quem tem certeza de que aquela conversa não era com ele. "Vocês todos, a partir de hoje", fui mais claro. "Eu sou é pobre", murmurou um porteiro. "O doutor tá de gozação com a gente", sorriu o outro. "Saiu algum aumento?", animou-se o faxineiro. Aumento de salário não saíra, desanimei-o. Mas saíra nos jornais, tentei reanimá-lo, o resultado de uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. Expliquei que é esse o nome de uma espécie de time grande da economia. Se o bando de craques trocasse cálculos por uma bola, comparei, se em vez de jogar com números jogasse futebol e disputasse o campeonato brasileiro, não ficaria um único ano fora da Libertadores da América. Eles pareceram entender. Então informei que a FGV resolvera examinar a situação dos moradores das seis maiores cidades do país. E descobrira que milhões de brasileiros só continuavam pobres por falta de informação: toda família capaz de juntar R$ 1.064 a R$ 4.591 por mês está na classe média "Então, quem é que é pobre?", intrigou-se um porteiro. Quem ganha menos de R$ 768, mostrei-lhe o jornal. Contei também que o mundo dos remediados começa aos R$ 769 e acaba nos R$ 1.064. Acima da classe média se estende o vasto universo habitado pelo que a FGV chama de "elite". "Esse pessoal que está dizendo essas besteiras devia tentar viver com o que a gente ganha", o faxineiro resumiu o que estavam achando de tudo aquilo os três brasileiros agredidos por um caso ultrajante de cinismo estatístico, produzido por especialistas em trucagens numéricas. "Do jeito que a classe média está crescendo, logo, logo vão estar criando pobres em cativeiro", deduziu no Estadão o ótimo Tutty Vasques. A extinção da espécie começou com o Bolsa Família, que promoveu os miseráveis a pobres, e foi acelerada pela pesquisa que incorporou incontáveis pobres à classe média. A fantasia produziu notáveis efeitos colaterais. A expansão do que a pesquisa batizou de "nova classe média" transformou em ricos os integrantes da velha e boa classe média, incluiu os ricos na lista das bilionários da Forbes e catapultou os bilionários para altitudes jamais alcançadas por um Bill Gates. Falta agora convencer os beneficiários da fantasia de que algo mudou. "A única coisa que comprei para mim neste ano foi um vestido de dez reais", disse à Folha de S. Paulo Mara Martins, 32 anos, que vende roupas numa barraca e mora com os cinco filhos na Vila Progresso, no Rio. "Nunca fui a um cinema. Trabalho todos os dias, de segunda a segunda, e não tenho lazer. Classe média, para mim, tem que ter lazer". Somados os salários de Mara e do filho à pensão que o pai envia do Maranhão, a renda familiar chega a R$ 1.500,00. "Há uma visão de que a classe média é um estado de espírito", argumenta o coordenador da pesquisa, Marcelo Neri. Mara Martins, por exemplo, só é pobre porque acha que é. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, agosto 14, 2008
Augusto Nunes- Os pobres subiram na vida sem saber
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