Apesar de problemas como a restrição para plantio por questões ambientais, o Brasil vai ter neste ano uma safra agrícola recorde e atenderá plenamente o mercado interno, fará estoques e exportará US$ 74 bilhões, 26,7% mais que no ano passado. "Vamos produzir mais, consumir mais e exportar mais, afirma o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, em conversa com a coluna.
O Brasil já é hoje o segundo maior exportador mundial de grãos, após os Estados Unidos, mas no ritmo atual poderemos suplantá-los em 10 anos, "desde que não se imponham mais restrições ambientais à expansão da área plantada; hoje elas são excessivamente rígidas. Temos tudo, terras planas, clima, que precisamos cultivar para abastecer o Brasil e o mundo",afirma o ministro.
DUAS FRENTES
O ministério está agindo em duas frentes: a interna, com aumento da produção, para atender plenamente ao consumo e conter a inflação, e externa, com os principais países importadores, para aumentar as exportações.
"Internamente, a agricultura brasileira está fazendo a sua parte contra a inflação, que se combate com mais produção; já estão chegando ao campo os recursos do financiamento especial de R$ 78 bilhões, aprovado pelo pelo presidente.
"Esse dinheiro beneficia as cinco grandes produções brasileiras, de algodão, milho, arroz, soja e feijão; na pecuária, está financiando a recuperação de áreas degradadas. A estimativa da safra de 2008/09 é de 143 milhões de toneladas, um novo recorde, o segundo ano consecutivo."
TRIGO ENTUSIASMA
Mas a grande novidade que entusiasma Stephanes é o expressivo crescimento da produção de trigo. Ele revela que já neste ano, com os novos estímulos, a safra de trigo deve aumentar 25% e as importações vão recuar de 7 milhões para 5,5 milhões de toneladas. "Fechamos, assim, a porta da nossa única dependência externa de abastecimento de alimentos. Esta é a nova política do governo: tornar-se também um grande produtor de trigo."
A GRANDE OPORTUNIDADE
A segunda frente é externa: aumentar ainda mais as exportações nesse ciclo de forte crescimento do consumo mundial de alimentos. "Com o aumento mundial do consumo, abre-se um novo espaço, que já está ocupando; o Brasil já é o segundo maior exportador mundial de grãos; representa 40% das exportações de carne e caminha para ocupar a metade do comercio agrícola mundial", diz o ministro.
OS MERCADOS PRIORITÁRIOS
Nesse sentido, informa, o ministério considerou os 20 principais mercados importadores de alimentos e selecionou cinco: China, União Européia,Rússia, Estados Unidos e Japão.
"Eles importaram, no ano passado, nada menos que US$ 377 bilhões, dos quais apenas US$ 28 bilhões do Brasil. Há, portanto, um espaço imenso a ocupar e estamos ocupando. Vamos nos concentrar neles, sem deixar de lado os outros, que continuam se expandindo cada vez mais."
A CHINA NÃO ATRAPALHA
Mas a China, que é também grande exportadora de commodities agrícolas, não vai competir com o Brasil? Afinal, ela anunciou, na última reunião da Rodada Doha, mudou de posição e ficou mais protecionista.
Stephanes esclarece que não há restrições especiais da China quanto à importação de commodities agrícolas. Como a Índia, ela defende que os países emergentes tenham o direito de impor barreira de proteção quando um determinado produto invade o seu mercado. Isso até poderia nos prejudicar, pois a China é a hoje a maior importadora de produtos agrícolas brasileiros, com um aumento de 27,9% no ano passado.
Mas, ressalta o ministro, as vendas para os chineses se concentram num único produto agrícola, soja em grão - 60,6% do total, em 2007. O restante é de celulose, óleo de soja em bruto e fumo não manufaturado; de agronegócio,o Brasil importou da China fios, produtos têxteis de algodão e papel.
"Nossas pautas agrícolas não coincidem; somos grandes exportadores de soja, café, açúcar, e carnes bovina e de frango, enquanto a China vende filé de peixe congelado,conserva de peixe, suco de maçã, tecidos de algodão e madeira.Vemos nela mais um parceira limitada a alguns produtos do que uma competidora."
PROTECIONISMO ATRAPALHA
O protecionismo, as cotas de importação que os países desenvolvidos dão aos seus agricultores para que se tornem competitivos, é o inimigo da liberalização do mercado agrícola a combater. " Eles subsidiam generosamente não só a produção, mas também as suas exportações, numa competição injusta com com os países que produzem a custos e preços menores. São punidos pela eficiência..." Caso típico, entre outros produtos, é o etanol de cana. "Eles aplicam uma pesada taxa na importação para que o nosso não chegue ao consumidor americano praticamente pela metade do preço do etanol deles, de milho. E isso é válido para outros produtos agrícolas. Ele preferem proteger os seus agricultores, em prejuízo dos consumidores. E com isso perdem uma valiosa arma para combater a inflação", assinala o ministro. Estranho. Uma aberração econômica que praticamente prejudica mais os americanos do que a nós.
Vai mudar? Stephanes não acredita, pelo menos por enquanto, pois o lobby dos agricultores americanos e europeus é poderoso e os consumidores não têm nenhum poder.
OMC NÃO AJUDA
E a OMC? Aqui, o ministro se irrita e perde a calma: "A OMC até hoje só tem prejudicado os países pobres. Os países ricos pouco ligam para as ações contra os subsídios, que perdem. Simplesmente não respeitam as decisões da OMC. Quando um país pobre ganha, não tem como cobrar os direitos que a OMC apenas teoricamente lhe concedeu para aplicar sanções no comércio bilateral, mas não tem como aplicá-las; temem retaliações. Exemplo típico, o algodão contra os EUA: ganhamos, mas não levamos. E tem sido sempre assim", afirma Stephanes.
Mas nós continuamos exportando muito, ministro. "Sim, mas poderíamos exportar mais. Temos produção, custos e preços menores, há um consumo mundial em expansão. O mundo está ávido por alimentos que nós, os países agroexportadores, podemos oferecer. Mas o mercado agrícola, a sua liberação, está travado!"
A coluna provoca: mas, mesmo sem a Rodada Doha, estamos exportando muito.
Sim, responde ele, categórico. Estamos indo bem sem Doha, mas nós, os países exportadores, poderíamos fazer mais. Veja: não se trata apenas do interesse de exportar, mas de oferecer mais alimentos ao mundo. O mundo está com fome, meu amigo, e nós, os países agroexportadores, temos produção suficiente para alimentá-los, e a preços menores, se nos deixarem. É só os países desenvolvidos liberarem o mercado."
E, conclui Stephanes, o mundo tem fome, nós temos alimentos, é só derrubar as barreiras que estão aí há mais de dez anos.
*E-mail: at@attglobal.net
O Brasil já é hoje o segundo maior exportador mundial de grãos, após os Estados Unidos, mas no ritmo atual poderemos suplantá-los em 10 anos, "desde que não se imponham mais restrições ambientais à expansão da área plantada; hoje elas são excessivamente rígidas. Temos tudo, terras planas, clima, que precisamos cultivar para abastecer o Brasil e o mundo",afirma o ministro.
DUAS FRENTES
O ministério está agindo em duas frentes: a interna, com aumento da produção, para atender plenamente ao consumo e conter a inflação, e externa, com os principais países importadores, para aumentar as exportações.
"Internamente, a agricultura brasileira está fazendo a sua parte contra a inflação, que se combate com mais produção; já estão chegando ao campo os recursos do financiamento especial de R$ 78 bilhões, aprovado pelo pelo presidente.
"Esse dinheiro beneficia as cinco grandes produções brasileiras, de algodão, milho, arroz, soja e feijão; na pecuária, está financiando a recuperação de áreas degradadas. A estimativa da safra de 2008/09 é de 143 milhões de toneladas, um novo recorde, o segundo ano consecutivo."
TRIGO ENTUSIASMA
Mas a grande novidade que entusiasma Stephanes é o expressivo crescimento da produção de trigo. Ele revela que já neste ano, com os novos estímulos, a safra de trigo deve aumentar 25% e as importações vão recuar de 7 milhões para 5,5 milhões de toneladas. "Fechamos, assim, a porta da nossa única dependência externa de abastecimento de alimentos. Esta é a nova política do governo: tornar-se também um grande produtor de trigo."
A GRANDE OPORTUNIDADE
A segunda frente é externa: aumentar ainda mais as exportações nesse ciclo de forte crescimento do consumo mundial de alimentos. "Com o aumento mundial do consumo, abre-se um novo espaço, que já está ocupando; o Brasil já é o segundo maior exportador mundial de grãos; representa 40% das exportações de carne e caminha para ocupar a metade do comercio agrícola mundial", diz o ministro.
OS MERCADOS PRIORITÁRIOS
Nesse sentido, informa, o ministério considerou os 20 principais mercados importadores de alimentos e selecionou cinco: China, União Européia,Rússia, Estados Unidos e Japão.
"Eles importaram, no ano passado, nada menos que US$ 377 bilhões, dos quais apenas US$ 28 bilhões do Brasil. Há, portanto, um espaço imenso a ocupar e estamos ocupando. Vamos nos concentrar neles, sem deixar de lado os outros, que continuam se expandindo cada vez mais."
A CHINA NÃO ATRAPALHA
Mas a China, que é também grande exportadora de commodities agrícolas, não vai competir com o Brasil? Afinal, ela anunciou, na última reunião da Rodada Doha, mudou de posição e ficou mais protecionista.
Stephanes esclarece que não há restrições especiais da China quanto à importação de commodities agrícolas. Como a Índia, ela defende que os países emergentes tenham o direito de impor barreira de proteção quando um determinado produto invade o seu mercado. Isso até poderia nos prejudicar, pois a China é a hoje a maior importadora de produtos agrícolas brasileiros, com um aumento de 27,9% no ano passado.
Mas, ressalta o ministro, as vendas para os chineses se concentram num único produto agrícola, soja em grão - 60,6% do total, em 2007. O restante é de celulose, óleo de soja em bruto e fumo não manufaturado; de agronegócio,o Brasil importou da China fios, produtos têxteis de algodão e papel.
"Nossas pautas agrícolas não coincidem; somos grandes exportadores de soja, café, açúcar, e carnes bovina e de frango, enquanto a China vende filé de peixe congelado,conserva de peixe, suco de maçã, tecidos de algodão e madeira.Vemos nela mais um parceira limitada a alguns produtos do que uma competidora."
PROTECIONISMO ATRAPALHA
O protecionismo, as cotas de importação que os países desenvolvidos dão aos seus agricultores para que se tornem competitivos, é o inimigo da liberalização do mercado agrícola a combater. " Eles subsidiam generosamente não só a produção, mas também as suas exportações, numa competição injusta com com os países que produzem a custos e preços menores. São punidos pela eficiência..." Caso típico, entre outros produtos, é o etanol de cana. "Eles aplicam uma pesada taxa na importação para que o nosso não chegue ao consumidor americano praticamente pela metade do preço do etanol deles, de milho. E isso é válido para outros produtos agrícolas. Ele preferem proteger os seus agricultores, em prejuízo dos consumidores. E com isso perdem uma valiosa arma para combater a inflação", assinala o ministro. Estranho. Uma aberração econômica que praticamente prejudica mais os americanos do que a nós.
Vai mudar? Stephanes não acredita, pelo menos por enquanto, pois o lobby dos agricultores americanos e europeus é poderoso e os consumidores não têm nenhum poder.
OMC NÃO AJUDA
E a OMC? Aqui, o ministro se irrita e perde a calma: "A OMC até hoje só tem prejudicado os países pobres. Os países ricos pouco ligam para as ações contra os subsídios, que perdem. Simplesmente não respeitam as decisões da OMC. Quando um país pobre ganha, não tem como cobrar os direitos que a OMC apenas teoricamente lhe concedeu para aplicar sanções no comércio bilateral, mas não tem como aplicá-las; temem retaliações. Exemplo típico, o algodão contra os EUA: ganhamos, mas não levamos. E tem sido sempre assim", afirma Stephanes.
Mas nós continuamos exportando muito, ministro. "Sim, mas poderíamos exportar mais. Temos produção, custos e preços menores, há um consumo mundial em expansão. O mundo está ávido por alimentos que nós, os países agroexportadores, podemos oferecer. Mas o mercado agrícola, a sua liberação, está travado!"
A coluna provoca: mas, mesmo sem a Rodada Doha, estamos exportando muito.
Sim, responde ele, categórico. Estamos indo bem sem Doha, mas nós, os países exportadores, poderíamos fazer mais. Veja: não se trata apenas do interesse de exportar, mas de oferecer mais alimentos ao mundo. O mundo está com fome, meu amigo, e nós, os países agroexportadores, temos produção suficiente para alimentá-los, e a preços menores, se nos deixarem. É só os países desenvolvidos liberarem o mercado."
E, conclui Stephanes, o mundo tem fome, nós temos alimentos, é só derrubar as barreiras que estão aí há mais de dez anos.
*E-mail: at@attglobal.net