Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 04, 2005

O GLOBO EDITORIAL Risco argentino

Risco argentino


Ao anunciar um acordo com a maior parte dos credores, que resultará no abatimento em mais da metade de uma dívida próxima dos US$ 100 bilhões, a Argentina espera regularizar o relacionamento com os mercados financeiros, suspendendo a moratória que foi obrigada a declarar em 2001 em face da crise do fim do regime de conversibilidade. A lei de conversibilidade (um peso valendo um dólar e vice-versa) fora fundamental para a Argentina vencer a hiperinflação e superar a crise política que se arrastava por vários anos. O país voltou a crescer na primeira metade da década de 90, porém o regime de câmbio fixo mostrou-se depois uma camisa-de-força para uma economia em processo de mudanças.

Enquanto o Brasil manteve um regime de câmbio quase fixo, a Argentina conseguiu dar sobrevida à sua conversibilidade, mas as turbulências nos mercado internacionais tornaram ambos insustentáveis. O Brasil adotou o câmbio flutuante em 1999 e a Argentina ainda tentou prosseguir com a conversibilidade, mesmo a custo de uma estagnação econômica e do confisco de poupança doméstica. A crise institucional detonada pela renúncia do presidente De la Rúa obrigou o país a recorrer à moratória.

Foi uma saída extrema, decorrente da total incapacidade de pagamentos no curto prazo. O Brasil teve também de renegociar sua dívida em 1982 e declarar moratória em 1987, quando as reservas cambiais do país tinham se esgotado.

Diferentemente da Argentina, para regularizar seu relacionamento com os mercados financeiros o Brasil ofereceu aos credores diversas opções de pagamento dos débitos acumulados. Mesmo assim, embora tenha mantido seus compromissos externos em dia desde 1993, o Brasil continua arcando com o ônus da moratória de 1987. O prêmio de risco que é pago nas operações financeiras em moeda estrangeira está acima da média dos países emergentes, e nem sequer condiz com a melhora na classificação do rating do país.

O desconto que a Argentina impôs aos credores provavelmente se traduzirá em prêmio de risco elevado em operações futuras. O fim da moratória argentina é por si só motivo de comemoração. Comedida, sem rojões. Afinal, calote não é alternativa de política econômica. É desfecho de uma crise e início de outra.

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