Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 04, 2005

Lucia Hippolito na CBN:

"O PMDB foi dormir na quarta-feira com um candidato à presidência da República e amanheceu na quinta com outro.
Toda a movimentação do novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, para tentar aumentar em 67% o salário dos deputados conquistou um padrinho de reputação inatacável: o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim.
Jobim fez uma carreira política muito especial. Foi deputado federal pelo PMDB gaúcho, figura importante na Constituinte de 87/88 e primeiro ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, que o indicou para o STF.
Mas Jobim nunca deixou de ser político. Dizem mesmo que seu sonho é sair candidato a vice na chapa de Lula em 2006 e em 2010 ser candidato a presidente da República.
Se este é o plano, está sendo muito mal conduzido. Primeiro, Jobim declarou abertamente que contrabandeou dois artigos para dentro da Constituição de 88, sem que estes artigos tivessem sido votados pelos constituintes. Declaração esquisita para quem é hoje o principal guardião da Constituição.
Agora, Jobim aliou-se a Severino Cavalcanti nesta manobra para aumentar os salários dos ministros do Supremo e assim legitimar o aumento de 67% para os deputados.
Depois da fortíssima reação da opinião pública, depois da reação dos principais partidos políticos contra o aumento e também depois da recusa do presidente do Senado a participar do entendimento entre Severino e Jobim, o presidente da Câmara recuou. Resultado: não saiu aumento nem para os ministros do Supremo nem para deputados e senadores.
Ponto para a sociedade brasileira.
No balanço final, ganhou a política de austeridade do governo federal, ganharam os líderes de partidos que se opuseram abertamente a este aumento abusivo, ganhou a opinião pública, que viu seu poder reconhecido.
Severino Cavalcanti não chegou a perder muito, porque fez o que se esperava dele. Sua campanha para presidente da Câmara incluía o aumento dos salários dos deputados.
Quem sai pior dessa história toda é Nelson Jobim, que não mostrou sensibilidade política para levar em conta a pressão da opinião pública. Preferiu oferecer a Severino Cavalcanti a saída esperta e fácil que a sociedade já estava rejeitando.
Jobim não fracassou como presidente do STF, mas como político. Revelou-se mau candidato à presidência da República.
Mas quem saiu melhor dessa história toda foi o presidente do Senado, Renan Calheiros, antigo aliado de Fernando Collor, ex-ministro de Fernando Henrique, atual aliado de Lula e, desde ontem de manhã, o mais novo guardião da moralidade, defensor dos cofres públicos. E por isso mesmo, o mais novo postulante a candidato à presidência da República pelo PMDB."
enviada por Ricardo Noblat

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