Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 15, 2005

no mínimo-Villas-Bôas Corrêa:Lula deslumbrado com o luxo



16.03.2005 | A contradição entre o que pregou durante a caminhada até chegar ao poder e o que diz e o que faz; entre a mímica, o discurso nos contatos com o povo, as badaladas prioridades pelas urgentes carências da pobreza, do combate à fome e à miséria, à desigualdade social, e o comportamento do governo, os hábitos do irreconhecível presidente Luiz Inácio Lula da Silva na fascinação pelo luxo, o conforto, na descuidada dissipação do dinheiro público, é a marca mais nítida, como mancha de piche em azulejo branco, da metade do mandato do torneiro mecânico que chegou ao topo da escada e parece esquecido de olhar para baixo.

Todas as preocupações sobre o despreparo de Lula para o desafio da mudança do poder, na guinada do crônico controle pelo centro e suas irrelevantes nuanças para o outro lado de clara maioria popular com aguadas pinceladas de esquerda, confirmam-se no quadro de desatinos, de erros primários, de arrogância que se refletiu nas pífias comemorações dos 20 anos de restauração da democracia, com o enterro em cova rasa dos quase 21 anos de ditadura militar.

Francamente, não há razão para soltar foguetes em meio as crescentes apreensões de uma crise institucional, com a contribuição, em cotas desiguais, dos três poderes.

Respingos na toga com a desembaraçada intromissão do ministro Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) na infausta manobra do presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti, para elevar além da lua os subsídios, as mordomias e vantagens dos parlamentares.

O Legislativo amarga os mais desmoralizantes índices de rejeição popular em todas as pesquisas ao inaugurar a era Severino, guru do baixo clero que se elegeu, em meio a uma barafunda de insanidade, com a bandeira da valorização do mandato, em seu sentido liberal do apogeu do corporativismo.

Com o discreto viés positivo da afirmação da autonomia do Congresso, com nova postura diante do Executivo.

Mas, o governo e o PT endoidaram de vez. Os festejados êxitos da equipe econômica, nunca repassados para o alívio dos desfavorecidos e do setor produtivo, dissolvem-se na geléia da orgia da gastança oficial, exposta nas denúncias de números irrefutáveis.

É um festival de dissipação de filho de viúva rica que escancara o cofre aos saques do rebento perdulário.

Na moita, até a revelação do insano desperdício dirigido para regar os privilegiados, a começar pela turma do PT, que invadiu os cargos públicos com a gana represada dos muitos anos de rebanho em pasto ralo. O peso pluma do deboche do reajuste de 0,1% para os servidores públicos, aposentados e pensionistas, contrasta com os paparicos da disparada de 30% na folha de pagamento com a contratação de mais 42.259 servidores, sendo 1.454 para cargos comissionados, adoçados com o facilitário da dispensa do concurso. O maná dos cargos de confiança (DAS) vara as nuvens e passa por Marte, no recorde histórico de 19.828.

Tudo sem a justificativa de um programa de modernização do funcionalismo ou da evidência do mutirão de grandes obras, de reformas, de mudanças a exigir reforço do pessoal.

O avanço dos petistas assinala sucessos retumbantes: 69% dos cargos federais, inclusive nos estados e municípios, foram conquistados pela elite petista, de até então desconhecidas habilitações.

Mas, é a duplicidade do presidente, com o lado popular da sua intuição, da fidelidade às origens, da comunicação com a fluência do improviso, indiferente aos tropeções na concordância, e a outra face da moeda dourada com o deslumbramento com o luxo, o conforto levado ao requinte do avião de US$ 56 milhões e centenas de ternos novos que estufam os armários dos dois palácios, que infla a bolha de escândalo com a revelação do despautério do aumento de 186% nas despesas com pessoal e custeio do gabinete presidencial.

Francamente, pelo que o governo fez e está fazendo até agora dava para economizar o suficiente para mudar a vida dos pobres, criando empregos: a solução permanente e digna.

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