Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, março 14, 2005

no mínimo Augusto Nunes: Capitão Dirceu: o retorno

Capitão Dirceu: o retorno

14.03.2005 | O José Dirceu macambúzio de 2004 não existe mais. Devolvido às funções de chefe de campanha, agora para reeleger o presidente Lula, recuperou a faceirice e voltou a exibir a arrogância que o longo inverno não amainou. Ressurgiu aparentemente convencido de que foi beneficiado pela passagem do tempo: 12 meses decerto bastaram para que a nação de desmemoriados esquecesse o escândalo protagonizado por Waldomiro Diniz, bandido que o assessorou até ser flagrado envolvido em grossas pilantragens.

Bandido e amigo: ambos dividiram um apartamento em Brasília no começo dos anos 90. Dirceu, desconfiado uterino, não suspeitou de que morava com um ladrão. Há um ano, prometeu colocar os pingos nos is nessa história. Ainda não deu um pio sobre o escândalo, e dificilmente o fará. O homem já andava excessivamente atarefado com o cotidiano da Casa Civil, a gerência dos 200 grupos interministeriais, a permanente troca de pontapés sobre a mesa de reuniões dos “altos companheiros” no Planalto e outras atividades. Imagine-se agora a agenda do homem designado para comandar a luta pela reeleição.

Retemperado pela retomada de perdidos poderes, não descuidou de cautelas sempre recomendáveis a quem permaneceu alguns meses submerso. Convinha, por exemplo, mostrar que no peito de um mandão também bate um coração. Foi a Cuba pedir a bênção de Fidel Castro. Chorou de novo: rever o padrinho sempre o deixa emocionado. Passou o Carnaval na ilha. Depois conseguiu um encontro com a secretária de Estado dos EUA, Condoleeza Rice. No duplo papel de emissário brasileiro e embaixador informal de Cuba, pediu que o governo americano suspendesse o bloqueio econômico imposto à nação caribenha.

Dirceu deve acreditar que o presidente George Bush perdeu o sono desde a passagem por Washington de alguém capaz de desdobrar-se em representante de dois países. Voltou ao Brasil prenhe de energia, reassumiu sem pedir licença o comando das articulações políticas federais e recuperou a loquacidade agressiva. Na semana passada, numa reunião ao Brasil, deixou claro que subiu ao palanque e nele pretende ficar.

Reiterou que o governo Lula só não brilhou mais intensamente por causa da “herança maldita” legada por Fernando Henrique. (Dirceu não vive sem FH.) Criticou o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador Geraldo Alckmin, possível adversário de Lula em 2006. Sobretudo, negou que o governo seja chegado a uma gastança em matéria de nomeações. Garantiu que as contratações resultam da necessidade de modernizar a máquina estatal. E que pode explicar uma por uma.

Bravata: como justificar o progressivo inchaço do mamute federal? Em 1995, no governo Fernando Henrique, as despesas do gabinete presidencial somavam R$ 38,4 milhões. Chegaram perto de R$ 76 milhões em 2002. No ano seguinte, o primeiro do mandato de Lula, registraram um recorde (R$ 318,6 milhões) superado pelos R$ 372,8 milhões consumidos em 2004. Nos tempos de Itamar Franco, o Palácio do Planalto abrigava 1.800 funcionários. Caíram para 1.100 na Era FH. Com Lula, são 3.300 servidores. Fora os 75 empregados destacados para o Palácio do Planalto. Os “assessores especiais diretos”, graças a um decreto de Lula, passaram de 27 para 45.

Os dados, divulgados pela revista “IstoÉ Dinheiro”, foram coletados por um grupo de consultores com senha especial de acesso ao Siafi, sigla que acompanha de perto a movimentação financeira da União. Eles concluíram que um presidente vindo do operariado gasta mais que governantes nascidos em famílias reais.

Explica essa, capitão Dirceu. E aproveite para colocar aqueles pingos nos is de Waldomiro Diniz.

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