Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 01, 2005

Jornal O Globo Editorial:Custo de um erro




Depois da previsível repercussão do desastrado improviso de Luiz Inácio Lula da Silva no Espírito Santo, ministros e o comando petista, também como previsto, tentaram socorrer o presidente. Sem sucesso. O máximo que conseguiram foi dividir espaço na imprensa com a compreensível reação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de autoridades do governo tucano atingidas por Lula e do comando do PSDB.

Ao relatar, de forma temerária, que um “alto companheiro”, logo entendido como Carlos Lessa, o havia informado sobre atos de corrupção numa “instituição” (o BNDES), na privatização de empresas do setor elétrico (Eletropaulo), Lula vulnerabilizou-se e abriu o flanco para a acusação de ter praticado crime de acobertamento de ilegalidades contra os cofres públicos.

O resultado imediato desse certeiro tiro nos dois pés foi acelerar a antecipação do clima eleitoral de 2006. E com isso paralisa-se o Congresso, atravanca-se o andamento da pauta de votação, da qual constam projetos de grande importância. A fatura do erro do presidente vai além. Atinge também a margem de manobra de um governo assentado sobre uma base partidária frágil. Como o baixo clero e correntes conservadoras tomaram o poder na Câmara, o Planalto precisará, mais até do que como em 2003, de votos tucanos e pefelistas para aprovar certos projetos.

Lula se colocou, ainda, na dependência da decisão do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, de engavetar o pedido de responsabilização feito contra ele pelo PSDB. E assim ficará em dívida com a corrente fisiológica que conquistou a Mesa da Casa. Por tudo isso, o ideal teria sido um recuo ainda na sexta-feira; no máximo no fim de semana.

Que tenha sucesso a operação de rescaldo anunciada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. Tucanos e petistas têm origem comum, nos movimentos de esquerda de oposição à ditadura militar. Não sem motivo, os dois partidos patrocinaram a mais civilizada transferência de poder da nossa história republicana.

No Planalto, o PT se conscientizou da inviabilidade dos sonhos do passado e aderiu a conceitos de política econômica do governo tucano, na verdade universais. O que os separa é a luta eleitoral pelo poder. Mas ela não justifica estancar as reformas que o país tanto necessita.

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