Há 15 anos ocorreu o bloqueio dos cruzados novos do Plano Collor. Foi um festival de horrores, mas decorrência do inferno que foram os últimos meses do governo José Sarney (1985-1990).
Sob o comando de um ministro da Fazenda inepto, Mailson da Nóbrega, o país ingressou em uma espiral inflacionária. Com o esfacelamento político do governo, caminhava-se a passos largos para a hiperinflação.
A idéia de atacar a inflação inercial, sem haver as condições adequadas para a economia, desmoralizara os planos econômicos. Primeiro, o Plano Cruzado (fevereiro de 1986), com toda a dose de fantasia e irrealismo que despertou. Depois, o Plano Bresser (junho de 1987), com a tentativa incompleta de otenização da economia. Finalmente, o Plano Verão (janeiro de 1989), um pastiche dos anteriores, com erros grosseiros de conversão de contratos.
Seguiu-se uma política temerária de expansão monetária, fortemente influenciada por uma decisão lesa-pátria, de permitir aos credores externos a conversão da dívida em cruzeiros, sem nenhuma espécie de deságio.
Havia um quadro de desestabilização que faria parecer o paraíso a transição política do governo Fernando Henrique Cardoso para Luiz Inácio Lula da Silva.
Em todos os cantos, analistas, comentaristas, consultores e advogados desenvolviam análises temerosas acerca de qualquer mudança.
O aval de Simonsen
Foi em uma reunião no apartamento de Mário Henrique Simonsen que Fernando Collor passou a trabalhar a idéia do bloqueio dos cruzados novos. Presentes alguns economistas, entre os quais Daniel Dantas e André Lara Rezende.
A conversa centrava-se em como enfrentar a hiperinflação que se avizinhava. Coube a Lara Rezende sugerir que o único caminho seria um choque de liquidez gigantesco, que tirasse todo o dinheiro da economia, desinflando os preços dos ativos. Collor olhou Simonsen, para saber sua posição. Simonsen concordou com um gesto de cabeça.
Começava a ser traçada ali a mais temerária medida da história econômica do país: o bloqueio de todos os depósitos dos brasileiros, com exceção ao equivalente a NCz$ 50 mil por pessoa. O anúncio foi feito previamente a 10 ou 12 jornalistas, em uma sala do Palácio do Planalto.
A então ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, não conseguia explicar o que não conseguia entender. Explicava o vetor de inflação e dizia que não era vetor. A gente insistia, ela dizia que não.
Atrás dela, o então presidente do Banco Central, Ibrahim Eris, acenava com a cabeça concordando que era -e pedindo com o olhar para pouparmos a ministra.
Sem segurança jurídica
O sistema bancário ficou literalmente às cegas durante dois ou três meses, sem saber que empresas estavam líquidas, que empresas estavam quebradas. Foi uma violência que interrompeu a segurança jurídica no país, matou muito idoso de desgosto. A economia só se refez plenamente quando saíram as primeiras liminares, reinstalando o primado do direito.
Mesmo assim, 15 anos depois, não saberia dizer se era possível evitar aquela loucura. Nos meses seguintes, o país passou por uma série de reformas atabalhoadas, impulsivas, algumas francamente desastradas, como a reforma administrativa.
Mas foi o período que lançou o país na modernidade -consolidando conquistas da Constituição de 1988 e lançando as sementes para os principais avanços dos anos seguintes. Mudou-se o regime cambial, implantou-se o Código de Defesa do Consumidor, as leis de ambiente, definiu-se um processo racional de abertura econômica, mudou-se a estrutura do "overnight", acabando com as taxas escorchantes para remunerar aplicações de curto prazo. Com todas as loucuras, havia uma visão de futuro, um rumo de modernização perseguido aos trancos e barrancos.
Em julho de 1994, tinha-se uma dívida pública irrisória, uma abertura comercial com superávit, contas públicas em ordem. Aí entraram em cena os financistas do Plano Real.
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