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domingo, março 06, 2005

Folha de S.Paulo - Governo em debate: Lula tem dom de piorar crises, diz Giannotti - 06/03/2005

ANA PAULA BONI
DA REDAÇÃO

As derrotas políticas que o governo Lula vem sofrendo sinalizam para uma crise em seu modo de governar. É o que diz o filósofo José Arthur Giannotti, 74, professor emérito da USP.
Para Giannotti, as declarações feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 24, sobre suposta corrupção no governo anterior, deu mais fôlego para a oposição tentar "colar" o desgaste político do governo à sua imagem.
Essa seria uma estratégia para a oposição tentar trincar a popularidade do presidente, já que seu "carisma" o mantém com índice de aprovação estável desde dezembro de 2004.


Folha - A popularidade de Lula continua alta, mas o poder político do governo sofreu vários reveses, entre eles a eleição de Severino. Como o sr. vê essa aparente dissociação entre popularidade e força política de Lula?
José Arthur Giannotti - Esse fenômeno já ocorria com FHC, pois o índice de popularidade do presidente era superior àquele do governo. O mais importante são as derrotas políticas sofridas por Lula, que sinalizam para uma crise no seu modo de governar.
Ao transferir lógica sindical para lógica de governo, quando a negociação é infindável ele termina empurrando os problemas com a barriga. Demora para decidir. Ninguém mais acredita que veio para mudar. Isso não implica que estejamos à beira do abismo, mas pode levar a política a uma espécie de fibrilação.

Folha - Instalou-se no país um terrorismo verbal depois da fala de Lula sobre suposta corrupção no governo FHC. É preocupante? Pode resultar em crise mais grave?
Giannotti - Preocupa-me a falta de contenção de Lula, que possui a virtude de aumentar o tamanho das crises. Como continua popular, resta à oposição colar sua imagem à imagem do governo.
Estamos assistindo a uma guerrilha de imagens. Difícil é prever até quando seu carisma vai se manter ou se a monotonia de sua atitude vai [nos] cansar. Em vez de crise institucional, poderemos ter uma crise institucionalizada, o que torna a política irrelevante.

Folha - Lula deve usar a reforma ministerial para recompor sua base de olho em 2006. Como deve ser o novo ministério e que preço o governo pagará a eventuais aliados?
Giannotti - Lula criou sua base depois de eleito, por isso deve pagar preço maior para recompô-la. Está sendo obrigado a negociar no miúdo. Tudo indica que será obrigado a ceder ainda mais a grupos fisiológicos, reduzindo os ministérios sobre os quais tem controle, o que provavelmente enfraquecerá mais o governo.

Folha - Fernando Henrique Cardoso voltou à arena política com mais publicidade desde o fim de 2004. Qual o papel de suas aparições? O sr. o vê como candidato (à Presidência ou ao governo de SP)?
Giannotti - É evidente que FHC não vai deixar de fazer política, mas creio que lhe interessa ocupar a posição de grande eleitor. Já que a política está privilegiando a luta entre egos, quem bate mais leva a melhor. Nesse momento, FHC ocupa o lugar de opositor-mor, daquele que poderá substituir Lula, mas isso não significa que seja, de fato, candidato.
É bom não esquecer de que a economia vai bem, que esse governo até agora soube como ninguém politizar seus avanços, e isso pode ser trunfo na recuperação da imagem trincada de Lula.

Folha - Existe hoje adversário para enfrentar Lula em 2006?
Giannotti - Tanto Geraldo Alckmin quanto Aécio Neves se preparam para ser presidentes. Importa saber se conseguirão desenhar alianças capazes de bater Lula, mas não é bom se esquecer de Garotinho.

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