Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 06, 2005

Folha de S.Paulo - ELIANE CANTANHÊDE: O embaixador Dirceu - 06/03/2005

BRASÍLIA - Não bastasse ser o coordenador de governo, o articulador político na prática e o conspirador-mor do Planalto, José Dirceu agora é também diplomata. E com missões dignas de 007 -um 007 dos pobres.
Não é por acaso que Dirceu vai a Cuba e depois aos EUA falar com a secretária de Estado, Condoleezza Rice. Ele é amigo de Fidel, fez treinamento político e de guerrilha na ilha, mantém laços que o levam às lágrimas até hoje quando pisa em Havana e se arvora artífice de uma aproximação Washington-Havana.
Todos os passos foram dados nessa direção. Na reunião dos presidentes do Grupo do Rio (latino-americanos), em novembro, o Planalto retirou de véspera a referência a Cuba no discurso preparado para Lula pelo Itamaraty. Não estava na hora, nem eram os parceiros ideais para tocar no tema, um trunfo na ambição de consolidar a liderança regional e ampliar a influência internacional.
Depois, a fila de ministros indo a Cuba e a estranha "troca de experiências" do chefe da Abin (a agência de inteligência), Mauro Marcelo, com o regime cubano. Tudo começa a fazer sentido. Como desfecho espetacular, o Brasil quer ganhar o troféu de negociador do século, botando as turmas de Bush e de Fidel para conversar. Isso, evidentemente, se o roteiro for cumprido e os atores concordarem com seus papéis.
O argumento para sustentar o roteiro e animar os atores é a importância de os EUA estarem apropriadamente posicionados para o pós-Fidel. Em vez de articulados apenas com os dissidentes de Miami, têm de ampliar contatos e negociações para a integração de Cuba à OEA.
Se der certo, a área externa ficará ainda mais congestionada. Celso Amorim é o ministro, Marco Aurélio Garcia é o guru e Samuel Pinheiro Guimarães, o arquiteto do "novo Itamaraty". Dirceu vira o superchanceler e, depois, presidente de fato.
Talvez tente até negociar a paz do PT com os aliados e do PT com o PT, mas essa parece impossível.

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