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quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Folha de S.Paulo - Editoriais: O RISCO XIITA - 09/02/2005

Com as apurações em fase final, confirmam-se as expectativas de que os muçulmanos xiitas, população majoritária no Iraque, irão deter a maioria das 275 cadeiras da assembléia que indicará o novo governo e redigirá a nova Constituição do país. Os xiitas, cujo peso eleitoral tornou-se ainda maior com o boicote da comunidade sunita ao pleito, não foram às urnas unidos. Dividiram-se em duas correntes.
A minoritária, liderada pelo atual primeiro-ministro, Iyad Allawi, aprova a idéia de um poder laico. A majoritária, que corresponde a uma coligação de 22 partidos, formada em torno do aiatolá Ali al Sistani, sofre forte influência religiosa.
Embora um moderado, que também defende a separação entre religião e política, Sistani tende a somar forças com xiitas de estirpe mais tradicional, como o xeque Ibrahim Ibrahimi, para quem a Carta do país deve ter como base a "sharia", a lei islâmica, que regularia questões fundamentais como a família, o casamento e o divórcio.
Chega-se, então, a um paradoxo, que já havia sido antecipado por diversos analistas: os EUA fizeram uma guerra, derrubaram o ditador Saddam Hussein, prometeram democracia e, como produto final, podem colher algo semelhante a uma república religiosa islâmica.
O vice-presidente Dick Cheney foi prudente ao comentar esse cenário. Disse que os iraquianos caminham na direção de soluções institucionais que "não se parecem com aquilo que ocorreria em Wyoming ou Nova York". Mas disse também não acreditar que esteja em gestação algo próximo do integrismo religioso.
Resta saber se a rede de mesquitas xiitas e seus aiatolás se deixarão dissuadir pela presença militar norte-americana ou pelo esforço que os EUA farão para que os sunitas, inclinados a defender um Estado laico, se reintegrem ao processo político.
Com essas incógnitas ainda a serem desvendadas, a possibilidade de um poder religioso xiita no Iraque preocupa seus vizinhos predominantemente sunitas -como a Jordânia e a Síria- e anuncia novas dificuldades para os EUA.

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