Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, setembro 02, 2012
PIB foi bom. Falta investir - ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 02/09
Agosto veio como se esperava, um PIB de 0,4% e decisões importantes do governo que, se complementadas rapidamente, podem dar inicio à recuperação nos próximos meses. Vieram mais desonerações tributárias para vários setores, como indústria automobilística, que evitou uma queda maior do PIB industrial, linha branca, e equipamentos. Mais significativo foi o estímulo para a construção civil, grande empregadora de mão de obra e matérias-primas, que vinha desacelerando.
O que falta. De tudo o que foi previsto, ficam para este mês a desoneração da folha de pagamento para mais setores e a redução de impostos que incidem sobre o custo da energia elétrica, medidas que a presidente promete para as próximas semanas. Um sinal positivo é que o governo reservou R$ 1,5 bilhão no orçamento de 2013 para novas desonerações. Dinheiro carimbado, diz o ministro da Fazenda. Isso a redução de juros negativos do BNDES para alguns tipos de financiamento de 2,5% e uma taxa media real, sem inflação de 2%.
Tudo mudou. Pode-se dizer que agosto foi o mês em que a política econômica do governo mudou para melhor. O fato mais significativo foi a decisão de retomar as privatizações abrindo espaço para o setor privado investir em áreas da infraestrutura até agora sob o domínio inoperante do Estado. Não foi apenas um passo ou uma leve mudança; foi um grande passo que o governo hesitava em dar. Falta agora complementá-los agilizando as licitações. Se há alguma critica, é porque não vieram antes.
Investimento segura PIB. Aqui, o desafio. O setor privado não reagiu ainda às melhores condições de financiamento, crédito, juros e câmbio. Não voltou a investir. O PIB do segundo trimestre do ano, mais 0,4% em comparação com o anterior (0,1%), apresenta um indicador grave e inquietante: a formação brutal de capital, recuou - caiu! - 0,7% no segundo trimestre sobre um resultado também negativo nos três primeiros meses do ano. Recuou de 18,7% no primeiro trimestre para 17,9% no segundo. Em 2011, chegou a 20%. E vem recuando há três trimestres sem sinais de reversão.
Para a presidente, "neste momento uma das nossas maiores preocupações é ampliar o nível de investimento principalmente em infraestrutura." Sem investimento, não há crescimento, que vem sendo sustentado pela demanda interna ainda vigorosa, sem pressionar a inflação, que está dentro da meta.
O PIB da industria, que representa 27% do valor adicionado total, recuou 2,5% no segundo trimestre, a maior queda desde 2009. Estima-se que o desempenho do segundo trimestre tirou 1,5 ponto porcentual do PIB. Não se poderá contar com esse setor pelo menos nos próximos seis meses. A reação deve ser lenta porque a economia mundial continuará crescendo apenas em torno de 2%. Resta ao governo intensificar os estímulos agora iniciados, admitindo de uma forma direta ou não um superávit menor que 3,1%. Para o mercado, deve ficar em 2,8%, o que será possível com a redução do custo da dívida interna, decorrente da menor taxa de juros, o equilíbrio fiscal e a dívida liquida interna em torno de 32%.
E o governo está fazendo isso. Ainda agora, aumentou capital da Caixa Econômica e do BNDES para investimentos de médio e longo prazo. E é também o que está na proposta orçamentaria de 2013 e o ministro sinalizam. Para Mantega, o governo "continuará perseguindo a meta (fiscal) cheia, porém se for necessário, vamos abatê-la." Mas é preciso ter também a colaboração dos Estados e Municípios, que estão recebendo um forte estímulo do governo.
PIB foi bom. Não porque poderia ter sido pior, mas porque o trimestre se encerrou com resultado melhor do que se esperava com um crescimento anualizado de 4%. Para o ministro, essa não é uma previsão, é meta que o governo está seguindo. Mas esse resultado vai depender em muito do cenário externo, que não anima. Agosto, as promessas foram cumpridas e a economia entrando em setembro no caminho certo. Juros menores, baixo desemprego, espaço monetário e fiscal, dívida pública recuando, inflação na meta. Mas o desafio maior que ainda resta é evitar o inaceitável, que a taxa de investimento continua recuando para menos de 17%. E a realidade é que isso só cai depender agora do governo que promete um setembro melhor.
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