Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, setembro 23, 2012
BCs se animam e vão à luta - ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 23/09
Depois de muita hesitação e cansados de esperar pelos seus governos, os bancos centrais dos Estados Unidos e do Japão decidiram injetar grande liquidez nos mercados, na tentativa de reanimar a economia. Pode equivaler a trilhões de dólares. Sim, trilhões. No Japão serão U$ 126 bilhões agora, mas o programa anunciado esta semana pelo seu banco central é mais amplo, US$ 1 trilhão neste e no próximo ano. E pode ser mais.
O mais ousado parece ter sido o Federal Reserve, que vinha hesitando há mais de um ano. Numa decisão surpreendente, Ben Bernanke anunciou que o banco vai injetar US$ 40 bilhões por mês, aos quais se somam outros US$ 40 bilhões em outras operações, não por um ano ou dois, mas pelo tempo que for necessário para que a taxa de desemprego recue dos 8,1% atuais para os níveis anteriores de 5%. Quando? A análise do mercado de trabalho de setembro, do próprio Fed, divulgada há alguns dias, prevê que o desemprego deverá estar entre 6,7% e 7,3% até mesmo depois de 2013.
Ou seja, o que o Fed anuncia é a emissão de mais alguns trilhões de dólares nos próximos dois anos porque a prioridade é criar empregos para voltar a crescer mais do que os 1,7% que ele prevê para este ano.
Vai dar certo? O principal editorialista do Financial Times, Martin Wolf, diz que Bernanke conseguiu uma grande vitória ao obter 11 votos a favor e apenas 1 contra no Comitê de Mercado Aberto. Tem risco, mas o risco pior era não agir.
Os bancos centrais do Japão e dos Estados Unidos tentam agora recuperar o tempo que perderam à espera de ações dos governos, que não vieram.
No Brasil foi diferente. Há contrastes entre o que está acontecendo nesses países e no Brasil. Eles têm desafios para os quais já estávamos preparados aqui.
O Federal Reserve vai injetar liquidez no mercado, emitir dólares para animar o consumidor americano; o objetivo principal do Banco do Japão é estimular as exportações, essencial para sair da estagnação que dominou sua economia por mais de uma década e ainda resiste. O Banco Central Europeu luta para enfrentar a crise financeira na zona do euro. O crescimento, se vier, será em 2014. Este ano é evitar a recessão.
No Brasil, o cenário é outro. Não há endividamento excessivo dos consumidores ou do governo, há demanda interna, espaço fiscal, recursos acumulados para enfrentar falta de liquidez. Há também coordenação entre políticas monetária e fiscal, estímulos oficiais e ações do Banco Central.
Em consequência, enquanto eles se desesperam com taxas crescentes de desemprego, entre 8 e 11% da força de trabalho, no Brasil, com apenas 5,4%, se vive em clima de pleno emprego. O PIB recua para menos de 2% este ano, mas existe aqui o que falta nos EUA, no Japão, na União Europeia: condições monetárias fiscais que já estão sendo sentidas para crescer 4% no próximo ano.
Quais são? Da parte do governo, novas desonerações que avançam; da parte do Banco Central, intensificar a política monetária reduzindo um pouco mais a taxa básica de juros, já no menor nível histórico real, e criando condições no mercado para ampliar o crédito.
E foi isso que o BC fez em meio a ações dos bancos centrais americano e japonês. Eles vão emitir mais dinheiro, aqui vão ser liberados recursos do depósito compulsório. Não será preciso emitir títulos, aumentar endividamento do governo, criar reais. Nos primeiros sinais de agravamento lá fora, o Banco Central liberou apenas uma pequena parte do compulsório que havia recolhido dos bancos para administrar a liquidez no sistema, mas, acima de tudo, para enfrentar essa nova situação.
Em dezembro do ano passado, o Banco Central tinha em seus cofres RS$ 448 bilhões em depósito compulsório; agora tem RS$ 380 bilhões. Desde janeiro, o Banco Central já liberou RS$ 60 bilhões e tudo indica que essa política deve ser implementada, como deu a entender o diretor de Política Monetária do banco, Aldo Mendes. Os depósito atuais de US$ 380 bilhões, disse, correspondem a cerca de 9% do PIB, vai cair para 8,5%, mas ainda é excessivo nos padrões internacionais, confirmou à coluna, neste fim de semana. "É o que estamos buscando num processo de médio prazo. Os R$ 30 bilhões liberados agora são uma primeira medida, outras mais poderão vir."
E vamos à guerra. O protesto é válido, mas Bernanke certamente vai repetir o que disse na primeira injeção maciça de dólares, em 2008. "Quem se sentir prejudicado que se defenda." O Brasil soube se defender naquele momento. Comprou dólares, aumentou as reservas e impôs o IOF no auge da entrada de dólares que saíam do Fed e entravam no país.
Agora a pressão do fluxo de dólares será menor porque não há mais a atração do rendimento da taxa de juros de mais de 12%. Mesmo assim, o ministro Guido Mantega ameaça: se for preciso, vamos de novo ao IOF. Se há guerra, estamos para ela, diz. E, pelo que vimos na coluna, não só no descampado cambial, mas no monetário e fiscal também. Mas se lá fora vai se travar uma batalha campal, aqui pode ser apenas uma luta secundária...
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