Entrevista:O Estado inteligente
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sábado, setembro 22, 2012
Guerra cambial - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 22/09
Em sua viagem durante esta semana à Europa, especialmente nos debates e nas entrevistas de que participou, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não fez outra coisa senão condenar as decisões tomadas pelos dois grandes bancos centrais do mundo, o Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, e o Banco Central Europeu (BCE), pelo despejo de mais dinheiro nos mercados por meio da recompra de títulos. Ele voltou a denunciar a "guerra cambial" deflagrada e intensificada pelos Estados Unidos e pela área do euro.
Mantega também avisou que vai continuar combatendo o que entende por excessiva valorização do real, produzida, segundo ele, pela forte entrada desses recursos, por meio de recompra de moeda estrangeira pelo Banco Central do Brasil e por meio de taxação (IOF) na entrada de capitais.
São duas as observações que se podem fazer a partir dessas reiteradas manifestações do ministro Mantega. A primeira delas é que é descabido condenar os grandes bancos centrais. Eles apenas estão tentando tirar suas economias do brejo em que se encontram. E chegaram à conclusão de que é melhor correr mais riscos, mas fazer alguma coisa para reativar o crédito e a atividade econômica, do que não fazer nada e ver a paradeira afundando as grandes economias e as emergentes.
O mundo inteiro (menos a Alemanha e o ministro Guido Mantega) está aplaudindo a atuação corajosa dos grandes bancos centrais, porque entende que o problema maior é a estagnação global e não determinados efeitos colaterais que possam vir a derrubar a competitividade das economias emergentes, sobretudo a do Brasil.
Às vezes, Mantega alega que essas operações gigantescas de emissão de moeda não servem para nada, porque não seriam capazes de reativar a economia. Mas este é um ponto de vista discutível. O próprio presidente do Fed, Ben Bernanke, vem dizendo o contrário. Ele argumenta que os resultados podem até não ser visíveis. No entanto, o que precisa ser avaliado, diz ele, é o tamanho do buraco em que estaria a economia americana se essas decisões não tivessem sido tomadas.
Isso não quer dizer que o governo brasileiro tenha de ficar parado e que não deva defender a economia de eventuais avalanches de moeda estrangeira sobre o câmbio interno - e essa é a outra observação a ser feita.
Por enquanto não há evidências de que a terceira rodada de afrouxamento quantitativo (quantitative easing) do Fed esteja provocando novo tsunami de moeda estrangeira no câmbio interno. Mas, se isso acontecer, que venham as defesas do governo brasileiro, desde que ajudem.
Esse debate não tem a ver com o que se trava a respeito dos grandes desalinhamentos cambiais que preexistem à crise - embora estejam sendo agravados pelas políticas expansionistas dos grandes bancos centrais. Esses descompassos pulverizaram as estruturas tarifárias (Imposto de Importação) destinadas a defender os produtos nacionais contra a ação predatória dos importados. E é por isso, também, que as disputas sobre o protecionismo tarifário perderam boa parte de sua base de referência.
Mas este é o mundo desordenado de hoje que esta crise tende a agravar.
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