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sexta-feira, setembro 28, 2012
O humor negro do BC Editorial Estadão
O Estado de S.Paulo - 28/09
A economia vai mal, a recuperação será lenta e os juros poderão continuar sem aumento até o fim do próximo ano, segundo as novas previsões e indicações do Banco Central (BC) em seu relatório trimestral de inflação. O crescimento econômico estimado para este ano caiu de 2,5% para 1,6%. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou como piada a previsão de 1,5% divulgada em julho pelo banco Crédit Suisse. Se ele estiver certo, os economistas do BC parecem ter ingressado com grande entusiasmo na carreira de humoristas. Em junho do próximo ano a expansão acumulada em 12 meses ainda estará em 3,3%, segundo as projeções divulgadas nesta quinta-feira. Se forem confirmados cenários tão ruins para o Brasil e também para o exterior, dificilmente haverá novo aumento de juros até o fim de 2o13. Embora implícita, essa promessa parece bastante clara no documento e essa foi, também, a interpretação de economistas consultados pela imprensa. Se não surgir nenhuma surpresa, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, responsável pela política de juros, atenderá ao desejo manifestado pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro Mantega.
Mas o tom do relatório tende para o humor negro, talvez involuntariamente. A inflação, segundo o pessoal do BC, continuará convergindo para o centro da meta - 4,5% -, mas com desvios. A taxa anual, no cenário de referência, estará em 4,6% no terceiro trimestre de 2013 e voltará a 5,1% no segundo trimestre do ano seguinte. De toda forma, continuará dentro da margem de tolerância (o teto é 6,5%).
Essa previsão está condicionada ao recuo dos preços internacionais das commodities e a um crescimento econômico moderado no Brasil. Se o Brasil e alguns outros países colherem o suficiente para compensar a quebra da safra americana, as cotações agrícolas poderão recuar, mas isso também dependerá, provavelmente, do esfriamento da economia chinesa. Preços agrícolas menores podem ser bons para conter a inflação, mas são sempre ruins para as contas externas. Quanto ao crescimento brasileiro, a ideia é óbvia: um resultado muito melhor que o esperado pressionará a inflação, admitiu o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo.
A previsão de inflação abaixo do teto é o único detalhe mais ou menos róseo. A projeção de crescimento industrial é menor que a divulgada na quinta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a Confederação, a produção geral da indústria deve ficar estagnada em 2012. A indústria de transformação deve produzir 1,9% menos que em 2011. Nas contas do BC, o produto da indústria geral encolherá 0,1% e o do setor de transformação diminuirá 2,2%.
Pelas projeções do BC, o consumo continuará crescendo, neste ano e no próximo, mais rapidamente que a produção das fábricas. O investimento industrial tem sido insuficiente, segundo o relatório. A diferença entre o consumo, turbinado pela renda e pelo crédito, e a capacidade de resposta do setor produtivo resultará, naturalmente, em erosão da conta de comércio. Essa tendência tem sido clara há mais de um ano e deve continuar, segundo as projeções do BC. As novas estimativas indicam para 2012 uma receita de exportações 3,1% menor que a do ano passado e uma despesa com importações 1,7% maior. O complemento perfeito para esses números está no Informe Conjuntural da CNI: há limites para o modelo de crescimento pela expansão do consumo e por medidas anticíclicas. É preciso reforçar o investimento e aumentar a produtividade. Medidas na direção certa apenas começaram e seus primeiros resultados só deverão aparecer a partir do próximo ano.
Pelas estimativas do BC, o investimento em máquinas, equipamentos e construções continuará baixo em 2013. Para este ano, a estimativa é de uma redução de 2,2%. Para os 12 meses até o segundo trimestre do próximo ano, a expectativa é de um aumento de apenas 1,4%, insuficiente para compensar a queda.
Quanto às finanças públicas, são expansionistas, segundo o relatório, mas o BC ainda aposta no cumprimento da meta fiscal, embora sem mencionar o valor do superávit primário. Se os gastos desandarem, como ficará a política de redução de juros?
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