O GLOBO - 21/09
Está tudo menor este ano na balança comercial. As exportações caem, as importações, o saldo e a corrente de
comércio, também. Além da crise na Europa, a China está comprando menos do mundo e pesam as medidas protecionistas da Argentina, nosso terceiro principal parceiro. Vendemos mais para os EUA do que para o Mercosul. A soja passou o minério de ferro.
No acumulado de janeiro até a segunda semana de setembro, a média diária de exportações está 4,4% menor. As importações caíram 0,5%, enquanto a corrente de comércio encolheu 2,6%. O que chama atenção é que a redução do saldo comercial: -32%, pela média diária. Em valores absolutos, o saldo foi de US$ 14,8 bilhões, contra US$ 21,3 bilhões de 2011. Isso mostra que a queda do preço das commodities afeta diretamente o desempenho brasileiro.
Depois de dois anos de forte crescimento, a expectativa é que 2012 seja um ano de estagnação no comércio externo.
— O pano de fundo é a queda da demanda mundial e um comércio mais fraco pela crise nos países ricos. O preço do minério de ferro caiu, mas a receita de soja ficou maior. O dólar mais fraco tem ajudado na exportação de manufaturados — explicou o economista Rodrigo Branco, da Funcex.
As greves dificultaram embarques e desembarques de produtos. Houve paralisação em vários órgão, como na Receita Federal, no Ministério da Agricultura, na Anvisa e Guarda Portuária.
A soja passou ao primeiro lugar da pauta, deslocando o minério de ferro. A exportação do complexo soja foi de US$ 21,2 bi, maior do que a de minério de ferro e concentrados, de US$ 20,4 bi. A receita com minério de ferro caiu 23,9%, enquanto a de soja em grãos subiu 22%. Minério de ferro, soja e petróleo continuam sendo os três principais itens de exportação. Representam cerca de um terço de tudo que vendemos para o exterior. O agronegócio como um todo é 39% da pauta.
As exportações para os americanos foram maiores do que para todo o Mercosul em US$ 3 bilhões. É a primeira que isso acontece desde 2008.O Brasil vendeu 13,4% a mais para os EUA e 16,2% a menos para os parceiros de bloco. Ainda assim, continuamos a ter déficit com os Estados Unidos, mas ele ficou menor: US$ 2,8 bilhões contra US$ 5,4 bi do mesmo período de 2011.
A Argentina comprou 18% a menos do Brasil. Nossa exportação caiu de US$ 14,6 bilhões para US$ 11,9 bi. Em fevereiro, o governo argentino aumentou as barreiras para entrada de produtos estrangeiros e, apesar das negociação com o governo brasileiro, o comércio não voltou ao normal.
— Isso é ruim porque atinge principalmente produtos manufaturados brasileiros, que representam 90% das exportações para a Argentina e 20% de nossas vendas de manufaturados — disse Branco.
O comércio com a Argentina tem um perfil bem diferente do que o Brasil tem com o resto do mundo. Em geral, a pauta se concentra em commodities agrícolas e metálicas, mas para lá é de manufaturados. O encolhimento das vendas, pelas barreiras comerciais, atingiu diretamente a indústria.
A China comprou 2,6% a menos do mundo até agosto. Reflexo do crescimento mais fraco do país. Ainda assim, conseguimos exportar 0,34% a mais para lá, o que garantiu com folga a permanência dos chineses como nossos principais parceiros. Eles compraram 17,43% do que vendemos. A queda no minério de ferro foi compensada por consumo maior de soja. O problema é que 80% de nossa pauta para a China são produtos básicos.
O preocupante não é a oscilação do saldo, mas a excessiva concentração em alguns produtos e em poucos mercados.