FOLHA DE SP - 28/09
RIO DE JANEIRO - Tomei meu pai pelo braço e levei-o a ver o Rio de seu tempo sendo restaurado, remodelado, retrofitado. Era um passeio a pé, como muitos que fez comigo quando eu era criança e ele, um homem de terno e responsabilidades. A diferença é que, agora, em 2012, era eu que o conduzia, mostrando-lhe as novidades -prédios, quarteirões, ruas e bairros inteiros sendo trazidos de volta a um esplendor que ele conheceu.
E não são apenas projetos, como já se fizeram muitos e ficaram no papel. São para valer -as obras são palpáveis, estão à vista e algumas, já infernizando o trânsito. O Rio dos imperadores, escravos, meirinhos, cocotes e capadócios, de Maneco de Almeida a Machado de Assis, se encontra com o dos presidentes, estivadores, cronistas, manequins e sambistas, de João do Rio a Marques Rebelo, e ambos chegarão até nós, que só os conhecemos sob o desprezo de governos sem compromisso com a cidade.
Abandonado há décadas, o centro histórico e profundo está sendo passado a limpo. Cabeças-de-porco à beira do desabamento renascem para se tornar estúdios, hostels, museus, ou para receber empresas cujas especialidades seriam incompreensíveis para seus moradores originais. Orgulhoso, levo meu pai pelo Catete, Glória, Lapa, Santo Cristo, Gamboa e outros bairros que foram seus territórios nos anos 30 e 40 e em que brincou tantos Carnavais.
Ele morreu em 1983, aos 73 anos. O passeio acima aconteceu num sonho que tive nesta semana. Por fim, chegamos à praça Tiradentes na hora do lusco-fusco, com os lampadários acesos, a vida piscando e um aroma de euforia. A multidão o impressionou, mas o lufa-lufa era fascinante. Um bonde passou apinhado, todo iluminado por dentro. Foi tão mágico que o sonho acabou ali.
O bonde e meu pai continuarão no sonho. Mas este novo velho Rio é real.
E não são apenas projetos, como já se fizeram muitos e ficaram no papel. São para valer -as obras são palpáveis, estão à vista e algumas, já infernizando o trânsito. O Rio dos imperadores, escravos, meirinhos, cocotes e capadócios, de Maneco de Almeida a Machado de Assis, se encontra com o dos presidentes, estivadores, cronistas, manequins e sambistas, de João do Rio a Marques Rebelo, e ambos chegarão até nós, que só os conhecemos sob o desprezo de governos sem compromisso com a cidade.
Abandonado há décadas, o centro histórico e profundo está sendo passado a limpo. Cabeças-de-porco à beira do desabamento renascem para se tornar estúdios, hostels, museus, ou para receber empresas cujas especialidades seriam incompreensíveis para seus moradores originais. Orgulhoso, levo meu pai pelo Catete, Glória, Lapa, Santo Cristo, Gamboa e outros bairros que foram seus territórios nos anos 30 e 40 e em que brincou tantos Carnavais.
Ele morreu em 1983, aos 73 anos. O passeio acima aconteceu num sonho que tive nesta semana. Por fim, chegamos à praça Tiradentes na hora do lusco-fusco, com os lampadários acesos, a vida piscando e um aroma de euforia. A multidão o impressionou, mas o lufa-lufa era fascinante. Um bonde passou apinhado, todo iluminado por dentro. Foi tão mágico que o sonho acabou ali.
O bonde e meu pai continuarão no sonho. Mas este novo velho Rio é real.