Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 10, 2010

Uma dupla canhota reescreve a história Wilson Figueiredo

JORNAL DO BRASIL

Não fez sucesso nem repercutiu nas pesquisas o elogio rasgado de Lula à sucessão presidencial, como se a ausência de candidatos de direita, pela primeira vez na história eleitoral do Brasil, fosse mérito pessoal dele. Também não terá sido para chamuscar de esquerdismo as candidaturas de José Serra e Dilma Rousseff.

Teria sido elogio, ou não passou de provocação para animar o debate chocho? Pode ter sido também para chamar a atenção da própria direita, que não está nem aí. Lula não é de direita e, muito menos, de esquerda: localiza-se entre as duas fronteiras. Ideologicamente falando, é ambidestro sem saber explicar. Ou quis dizer que, depois que ele se retirar, a esquerda pode dispensar cuidados à direita? Por amor ao contraditório, dias depois contou que a direita, a cada 24 horas, tenta dar o golpe neste país.

Denúncia ou enigma? Em compensação, se assim se pode considerar, é a primeira vez que a esquerda comparece com dois candidatos, digamos, para que o eleitor possa escolher sem medo de errar, desde que vote na sua candidata. Nem por isso, nem por José Serra e Dilma Rousseff terem sido de esquerda, a vitória deixará de preferir um dos dois. Pode ser também que a esquerda tenha encurtado a distância que historicamente a separava da direita e se localize, nem tão perto que se confunda com ela nem tão longe que pareça incompatibilidade.

Há, no entanto, uma evolução no elástico conceito de esquerda que Serra e Dilma praticaram, desde a política estudantil, na visão compatível com esse modo de abordar as questões e de resolvêlas. Serra foi presidente da UNE, quando a causa de o petróleo é nosso era prioridade e o nacionalismo, o denominador comum. Uma geração depois, Dilma Rousseff foi à luta armada contra a ditadura que estava demorando a dar sinais de esgotamento, segundo o modo de ver da juventude à época. No tempo de um e de outra, a esquerda era insuspeita de manter relações promíscuas com a direita.

Como o compromisso do presidente Lula é com ele mesmo, poucos dias depois ele disparou de Porto Alegre o torpedo sem direção, ao dizer que a direita brasileira tenta, a cada 24 horas, dar golpes de que ele escapa sem alarde. Provavelmente queria dizer outra coisa. O que mandou na oportunidade, e foi publicado, não pode deixar de ser verdade, de acordo com o axioma de Samuel Wainer, segundo o qual, se saiu em jornal, então é verdade. Ou seja, até boato virtual se torna real quando publicado pelos jornais. Enquanto a terra dá uma volta completa em torno do seu eixo, a direita não cogita de outra coisa senão do que lhe compete por fatalidade histórica: esperar pelos erros e contradições da esquerda. É do que ela tem vivido até hoje.

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