O GLOBO - 24/08/10
Saudade dos bons tempos em que o Rio tinha apenas favelas.
Hoje, a expressão correta nos morros afastados do Centro da cidade é “complexo”. São vastas áreas de subúrbios em que favelas estão emendadas umas nas outras. Nelas, a polícia pode entrar, mas parece que ainda não sabe como ficar. Nem, pelo visto, como sair. Lá, lei e ordem não têm residência fixa.
A resposta mais eficiente a essa crise urbana permanente tem sido o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora.
Têm funcionado bastante bem em favelas pequenas, como a do Morro Dona Marta, em Botafogo.
Para favelas grandes, ainda não há remédio conhecido. Foi o que se viu no último fim de semana. Numa versão sem confirmação oficial, um grupo de 12 policiais militares teria entrado na Rocinha com o ambicioso objetivo de prender o traficante Nem, chefe do tráfico de drogas na área. Seja verdade ou não, por alguma razão bastante forte os traficantes desceram do morro para enfrentar os PMs. Resultado: uma mulher morta e seis feridos. Além da invasão do Hotel Intercontinental, onde 35 pessoas ficaram durante três horas reféns dos bandidos.
Não fica bem condenar policiais que arriscam a vida para enfrentar traficantes e conseguem prender dez deles. Mas alguma autoridade estadual deve estar avaliando a chamada relação custo-benefício do episódio para uma cidade cuja prosperidade depende consideravelmente do turismo. Leve-se em conta que Nem não está entre os presos.
O episódio reforça a impressão de que a polícia pacificadora — reconheçase: uma confortadora designação — é solução parcial. Não serve para os tais complexos; infelizmente, é neles que está o grande problema da cidade.
Invasões episódicas, mesmo dando certo, podem ter custo alto demais. E o preço que a cidade pagou pelo episódio de sábado foi esse mesmo: muito risco e alto prejuízo para a imagem da cidade que pretende hospedar uma Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.
A polícia pacificadora é bela ideia, a urbanização de favelas é objetivo obviamente necessário, mas nada disso basta: o problema é maior que essas duas soluções. Para começo de conversa, aprendemos no sábado o que não fazer. Foi lição de alto custo: o mínimo que se espera é que não seja esquecida.
Entrevista:O Estado inteligente
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