O Globo - 19/08/2010
No tempo das mídias sociais, a sua audiência tem audiência, e isso pode ir ao infinito, explicou o especialista e escritor Brian Solis no Congresso Digital Age 2.0. Ou seja, os que te seguem no Twitter são seguidos por outros. “Quem está tuitando agora?”, perguntou Brian e recebeu respostas majoritárias do plenário. Ao fim da palestra dele, me isolei para ver na web o debate dos presidenciáveis.
No meio do debate da Folha Uol, o jornalista Fernando Rodrigues informou que aquele era o assunto mais falado na internet no mundo, naquele instante.
Ou seja, o hashtag #debatefolhauol era o primeiro na lista mundial. Entre as pessoas que sigo, uma jornalista portuguesa informou que o Brasil está usando a internet no seu Censo 2010.
Enquanto ouvia o debate, expliquei para ela como funcionava o censo brasileiro.
Há quem considere que todo esse mundo é para um grupo pequeno de histéricos dependentes de novidades tecnológicas e há quem veja nisso o presente do futuro. Sou do segundo grupo. Quanto um bom debate virtual influencia uma eleição? Isso será respondido depois, mas a ideia de Solis ajuda a alargar a visão. Não são apenas tuiteiros mandando informações para seus seguidores, mas para pessoas que seguem e são seguidas, que conversam com você, seu público e o público deles. Que depois vão trocar impressões com quem nem se dá ao trabalho de acessar alguém ou algum site. A tribo digital e a tribo analógica vão trocar impressões, com uma influenciando a outra, na mesa do jantar, nos bares, nas conversas cotidianas. A jornalista Cora Ronai disse, numa entrevista recente, que Twitter é todo mundo numa praça gritando. Imaginei uma enorme Ágora do século XXI, em que todos podem ter direito a palavra.
Mundo novo. Velhas questões em debate: investimento público, falta de saneamento, os votos do PT contra tudo e todos, o ensino profissionalizante, alianças com políticos obsoletos e reformas não feitas.
A pergunta que sempre fica no ar: quem ganhou o debate? A resposta será sempre subjetiva, cada um deve ficar com a sua avaliação.
Acho mais estimulante ressaltar o que houve de novo no debate.
Os candidatos estavam mais à vontade do que na televisão. Foram mais parecidos com eles mesmos, e disseram algumas verdades.
Dado o controle asfixiante dos marqueteiros sobre a fala dos candidatos, momentos breves de sinceridade devem ser comemorados.
José Serra e Dilma Rousseff trocaram mais farpas do que nunca. Serra acusou o PT de ser o campeão do “quanto pior, melhor”, e lembrou os votos do PT: votou contra Tancredo Neves, expulsou quem votou a favor, votou contra a Constituinte, o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o saneamento dos bancos, o Fundef, as OS.
Dilma respondeu: — Reconhecemos que votamos errado.
Pois é. Isso até seria mérito, se não fosse o fato de que votaram errado durante quase duas décadas.
Serra atacou os vazamentos de informações do Enem. Dilma respondeu que até nos Estados Unidos, na guerra do Afeganistão, houve vazamentos.
— Esses dados cadastrais, 31 instituições têm acesso — disse Dilma reagindo à acusação de que o fato tenha desmoralizado o Enem.
Nesse ataque inicial, Dilma foi vingada por Marina, que atacou Serra em dois pontos difíceis de responder: — Ontem, estive numa favela em São Paulo onde há esgoto a céu aberto e vivem 10 mil pessoas — disse.
Antes, Marina havia criticado dados educacionais de São Paulo, perguntando se aquilo era o melhor que o PSDB podia apresentar depois de governar o estado por 16 anos.
Dilma perguntou a Marina sua opinião sobre a ampliação da internet. Ela deu resposta genérica e Dilma aproveitou para elogiar o governo no Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). Marina poderia ter perguntado por que oito anos não foram suficientes para usar o dinheiro, que foi deixado no cofre pelo governo anterior, para um programa de universalização dos serviços de telecomunicações.
Marina acusou Serra e Dilma de serem iguais, nas qualidades e nos defeitos.
Qualidades: bons gerentes; defeitos: pensamento econômico desatualizado. Uma grande tacada dela: “Estão querendo infantilizar os brasileiros com essa história de mãe e pai.” Esse é o tipo de frase que se estivesse no Twitter, eu retuitaria.
Dilma disse de forma dura, e não foi respondida, que havia no governo Fernando Henrique na área de saneamento o que ela chamou de “fila burra”. Uma empresa que estivesse sem documentação necessária para um projeto de financiamento não era substituída pela segunda da fila. Tudo ficava paralisado.
Marta Suplicy, entrevistada no intervalo, disse que ficou ruim para Serra o tom duro contra Dilma: “ela é mulher, não deve ser atacada assim.” Para uma feminista, essa explicação é meio ridícula. Aquele era um debate de iguais.
Mauro Paulino, do Datafolha, entrevistado no intervalo, disse que a maior probabilidade continua sendo de vitória de Dilma Rousseff, mas lembrou que a campanha está começando.
Se Brian Solis, com todo o seu conhecimento de mundo digital, tiver razão, o que foi dito lá foi além dos que acompanhavam tudo pela web, porque hoje a audiência de cada jornalista, blogueiro, tuiteiro, internauta tem sua própria audiência.
A informação se espalha de forma viral.
De noite, Serra e Marina foram para um debate com diretores de recursos humanos de empresas de todo o Brasil. Três mil inscritos no congresso da ABRH. Dilma não foi. Foi um encontro do mundo físico.
Entrevista:O Estado inteligente
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