O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/08/10
Jornalista norte-americano radicado há quase 30 anos no Brasil, Michael Kepp escreveu um artigo didático sobre as campanhas eleitorais no Brasil e nos Estados Unidos, dizendo que lá equivalem a uma maratona e aqui se parecem com corridas de 100 metros rasos.
Usa essa imagem para concluir que os candidatos brasileiros falam pouco com o eleitor, se expõem o mínimo indispensável, enquanto os americanos se submetem a um teste rigoroso e prolongado de resistência perante o público.
Antes disso, vencem a prova dentro dos respectivos partidos em eleições primárias que duram meses e passam por todos os Estados da Federação.
A campanha americana dura pelo menos dois anos, a mobilização por arrecadação financeira é monumental, pois não existe horário gratuito na televisão, as entrevistas são agressivas, as cobranças contundentes e a vigilância sobre os candidatos muito estreita.
Pessoal, profissional e politicamente falando. Veículos de comunicação tomam posição em favor deste ou daquele e nem por isso são patrulhados ou têm contestada sua legitimidade para entrevistar quem quer que seja.
As mulheres são entrevistadas, a família vive sob o holofote, a vida pregressa é esquadrinhada e a ninguém ocorre pedir que os jornalistas sejam gentis durante as entrevistas. Não passa pela cabeça de governante ou militante cobrar da imprensa tratamento reverente e muito menos os veículos de comunicação ficariam intimidados com isso sentindo-se no dever de aliviar a mão.
O entendimento geral é o de que a cobrança dura é uma obrigação, assim como a exposição de todas as questões que possam constranger o candidato, amanhã ou depois assombrar o governante eleito e, portanto, criar problemas para o país.
Michael Kepp afirma que os candidatos nos Estados Unidos pagam um preço em termos de exposição que nenhum deles estaria disposto a pagar no Brasil.
Está correto no diagnóstico. São uns boas vidas, escondem-se atrás das maquinações publicitárias, reivindicam direito a privacidade, dão-se ao desfrute de escolher sobre o que falam e a respeito do que preferem calar. Coisa típica de país em que o Estado em alguns aspectos ainda se impõe à sociedade.
Haja vista a possibilidade de um candidato à Presidência da República ser fruto da vontade de um só ou de meia dúzia, em decisões autocráticas ou decorrentes de acertos de cúpulas.
O presidente Luiz Inácio da Silva chama atenção porque exacerba e exibe o contraste entre o PT ativo de ontem e o partido passivo de hoje. Mas o processo de escolha de candidaturas na essência não é diferente em outros partidos.
São as cúpulas que decidem. A realização de prévias é quase uma confissão de fracasso entre nós. Quando um partido faz prévias em algum Estado considera-se que naquela seção há uma divisão irremediável, o que já significa de início uma desvantagem eleitoral.
O que deveria ser sinônimo de vivacidade é tradução de fragilidade e incapacidade de “todos se unirem” em vontade única
Esse tipo de desconforto em relação ao contraditório é que engessa os debates, cria regra em cima de regra, faz os políticos inventarem leis que tornam liberdade de expressão um conceito relativo no período eleitoral e também sustenta uma tese supostamente politicamente correta: a de que PT e PSDB deveriam parar de se opor e unir-se em governo de excelências.
É uma utopia boboquinha que frequenta tanto as cabeças de bem-intencionados quanto as bocas de espertos que celebram a unidade em benefício próprio.
A política fica mais fácil de ser feita quando pasteurizada, desprovida de nitidez, sem antagonistas. Em compensação, fica mais distante do cidadão e reduzida a ofício para iniciados.
Reclama-se agora da falta de “emoção” na campanha e nos candidatos. Talvez o erro não esteja nas pessoas. Mas no modo anacrônico de se fazer as coisas.
Impositivo, restritivo, cheio de obrigações, de truques, de ilegalidades e de armações que são em si a negação do sentido de democracia.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2010
(1998)
-
▼
agosto
(290)
- ARNALDO JABOR A volta do bode preto da velha esquerda
- Festa na véspera Miriam Leitão
- Disputa por espaço Merval Pereira
- DESORDEM PANDÊMICA Mario Cesar Flores
- Areia nos olhos do público EDITORIAL O Estado de S...
- Inépcia ou dolo - Dora Kramer
- O Brasil deles é melhor : Carlos Alberto Sardenberg
- Hermenêutica ideológica : Denis Lerrer Rosenfield
- Perdas e ganhos - Suely Caldas
- EUA reagem e sobra para nós - Alberto Tamer
- As limitações do biodiesel Celso Ming
- FERREIRA GULLAR Revolução na favela
- DANUZA LEÃO Só pra saber
- Nelson Motta Paixões perigosas
- Editoriais
- Maciel, Jarbas e Raul rebatem o presidente
- Usurpação de cidadania Dora Kramer
- Poço sem fundo Miriam Leitão
- O DIREITO AO RISO Gaudêncio Torquato
- Tsunami governista Merval Pereira
- Una derrota en todos los frentes Por Joaquín Moral...
- MARIANO GRONDONA La crisis del relato setentista
- DENTADURA, SAPATO OU EMPREGO João Ubaldo Ribeiro
- A riqueza do mundo LYA LUFT
- O DESCONSOLO DA PERDA BETTY MILAN
- Sem perdão J. R. Guzzo
- REAPRENDER A ROMPER A MORDAÇA Mauro Chaves
- Chega de queimadas Miriam Leitão
- MERVAL PEREIRA Pela causa
- UM LEGADO EXPLOSIVO EDITORIAL O ESTADO DE SÃO PAULO
- A guerra do México e o Brasil :: Clóvis Rossi
- Um princípio na defesa da democracia – Editorial /...
- Uma lição prática de economia :: Luiz Carlos Mendo...
- Aparelhamento desafia o Estado – Editorial / O Globo
- Só para lembrar
- Motor ou freio Miriam Leitão
- Um ou dois murrinhos LUIZ GARCIA
- O crime continuado do PT EDITORIAL O ESTADO DE SÃO...
- Sonho verde Merval Pereira
- Editoriais
- Reforma global - Celso Ming
- Continuísmo - Dora Kramer
- Um grande paradoxo brasileiro Roberto Lent
- Reinaldo Azevedo
- Augusto Nunes
- Dora Kramer-Crime organizado
- Falha da oposição Miriam Leitão
- Lula inventou uma fábula CLÓVIS ROSSI
- Uma doutrina por trás da censura Eugênio Bucci
- "O alvo era Serra" RENATA LO PRETE
- Delinquência estatal EDITORIAL FOLHA DE SÃO PAULO
- Banaliza-se a invasão de privacidade EDITORIAL O G...
- A arma do papel-jornal EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- A máquina Merval Pereira
- Ruim com ruim Celso Ming
- Governo estuda criar outra reserva em RR Índios qu...
- Definição de preço pode derrubar ainda mais ações ...
- A Unasul à deriva Rodrigo Botero Montoya
- Comentario no Blog do Reinaldo Azevedo
- MÍRIAM LEITÃO Onda latina
- Declínio americano? Luiz Felipe Lampreia
- O novo alvo do 'grande eleitor' EDITORIAL O Estado...
- Eleição sem política :: Marco Antonio Villa
- Obsessão Merval Pereira
- Faz de conta Dora Kramer
- Equação complicada Celso Ming
- Legislar o riso e sacralizar o poder?Roberto DaMatta
- Não ao "dedazo" de Lula :: Roberto Freire
- Não era para acreditar Rolf Kuntz
- Fundos estão quase sempre onde capital privado não...
- AUGUSTO NUNES
- Editoriais
- RUBENS BARBOSA Comércio exterior e o futuro governo
- LUIZ GARCIA O que não fazer
- MÍRIAM LEITÃO Juros devem parar
- MÍRIAM LEITÃO Juros devem parar
- BOLÍVAR LAMOUNIER A 'mexicanização' em marcha
- CELSO MING Restrições aos chineses
- MERVAL PEREIRA Campos de batalha
- DORA KRAMER A menor graça
- ARNALDO JABOR Estou nascendo hoje na internet
- Oportunidade perdida Alon Feuerwerker
- MARCELO DE PAIVA ABREU Desfaçatez em escala indus...
- Previdência privada exige cuidados Antonio Pentea...
- Pagamos mais caro. E agora? Carlos Alberto Sardenberg
- O modelo e o futuro : Fabio Giambiagi
- Lula e Cabral, vídeo revelador Carlos Alberto Di ...
- FERREIRA GULLAR Eu fui às touradas em Barcelona
- MERVAL PEREIRA Luta pelo Congresso
- DANUZA LEÃO O bem maior
- MÍRIAM LEITÃO Está vindo?
- DORA KRAMER Desencontro marcado
- JOAQUÍN MORALES SOLÁ La guerra más peligrosa de lo...
- MARIANO GRONDONA Sin las retenciones, ¿terminará u...
- ROBERTO MUYLAERT Em 2014, o Brasil tem de vencer
- JOÃO UBALDO RIBEIRO COMO SERIA BOM
- MAÍLSON DA NÓBREGA Obras e desenvolvimento
- ROBERTO POMPEU DE TOLEDO Pode piorar sim, Tiririca
- Gaudêncio Torquato 'Pior do que tá não fica'
- Sergio Fausto Direitos humanos às escuras
-
▼
agosto
(290)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA