O Globo
Minha experiência pessoal com barba é péssima.
Uma única vez, num distante verão, tentei deixar crescer uma barba. Mas, depois de três semanas sofrendo com o calor, o suor e coceiras torturantes, raspei. Além de uma sensação de frescor e limpeza, passei a ouvir dos amigos que encontrava: “Você está parecendo mais jovem, fez botox ?” Tinha só tirado a barba.
Alguns usam a barba para melhorar o desenho do rosto, para encobrir lábios muito finos, ou grossos demais, ou disfarçar uma papada.
Uns, para se esconder, outros para se exibir. A verdade é que a barba protege bem o rosto em climas frios — mas é muito incômoda nos trópicos.
Esta chateação diária masculina, movida a espuma e gilete, ou ao zumbido do barbeador elétrico — e, pior, enfrentando o espelho — ou a opção preguiçosa ou vaidosa pelos pelos, virou uma questão política no Brasil.
A barba se tornou a cara do PT.
Nunca na história deste país um partido político, além de se apresentar como mais ético, honesto e solidário do que os outros, exibia a sua diferença com uma identidade visual — as barbas bravias de seus líderes e militantes, inspiradas nos barbudos de Sierra Maestra. Nos bares, surgia um novo tipo popular urbano: o “barbudinho do PT”. Se fosse marketing, a estratégia do branding capilar se tornaria um case de sucesso, paralelo à trajetória da barba de Lula, que de eleição em eleição foi sendo aparada e tratada, enquanto o sapo barbudo passava a príncipe barbado.
Quando o careca e barbeado Marcos Valério e o barbudo Delúbio fizeram coisas cabeludas no mensalão, os petistas puseram as barbas de molho. Os bigodudos Tarso, Luís Dulci e Mercadante queriam refundar o partido, mas as barbaças e barbichas sindicais se eriçaram. Seria fazer o jogo sujo da direita bem barbeada. A direita é glabra.
Hoje, as barbas aparadas de Antonio Palocci, Marco Aurélio Garcia, Celso Amorim e Jaques Wagner estão em unidade capilar com os bigodudos e com os cavanhaques leninianos de Zé Dutra, Berzoini e Genoino.
Não há no primeiro time petista, tirando Marta e Dilma, ninguém de cara limpa. Só o neocabeludo Zé Dirceu.
Entrevista:O Estado inteligente
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