O Globo - 06/08/2010
O mercado de telecomunicações do Brasil começou a se mexer na semana passada e não deve parar. A possibilidade de que a Vodafone compre uma porta de entrada através da Telecom Itália mostra que as pedras vão continuar se mexendo no tabuleiro. A Embratel, que é do grupo Telmex, ou seja, Carlos Slim, quer ser a dona integral da Net.
Há bons motivos para a agitação. Primeiro, grupos brasileiros, espanhóis, mexicanos, portugueses, italianos e franceses brigam por um mercado de 185 milhões de linhas de telefonia móvel; quase 70 milhões de usuários de internet; 43 milhões de linhas de telefonia fixa e oito milhões de assinantes de TV por assinatura.
Em celular, o Brasil é o quinto maior do mundo. Segundo, hoje as empresas de telecomunicação não veem apenas o telefone. Querem oferecer celular, fixo, banda larga e TV por assinatura.
Muita gente se perguntava por que grandes empresas da Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos ou Japão não tiveram interesse no Brasil. No caso da Vodafone, que, segundo matéria de Bruno Rosa ontem no GLOBO, quer entrar no Brasil através da TIM, o movimento tem para o país a vantagem de incluir a segunda maior empresa do mundo.
Isso resolve também um nó do mercado brasileiro. A Telefónica, que agora virou a dona absoluta da Vivo, tem 42% da empresa que controla a Telecom Itália, dona da TIM. Pela Lei Geral de Telecomunicações, no Brasil uma mesma empresa não pode estar no bloco de controle de duas companhias de celular na mesma área.
— A Anatel criou restrições para a Telefónica. Ela não pode, por exemplo, participar de reuniões da Telecom Itália quando o assunto for a estratégia para a TIM Brasil — explicou o economista Luiz Schymura, ex-presidente da Anatel.
Se ela vender a participação para a Vodafone, o Brasil terá outra empresa grande no mercado. A TIM tem 20% da telefonia celular brasileira, mas não tem os outros serviços de telecomunicação.
Com novo dono poderá ter uma estratégia mais definida. Para a Telefónica, a vantagem é reduzir o custo de ter comprado toda a participação da Portugal Telecom na Vivo.
De acordo com a consultoria Teleco, entre 2005 a 2009 quase dobrou número de usuários de Internet no Brasil. Nosso mercado de celular está atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e Rússia.
O número de linhas deve chegar a 235 milhões em 2012. O mercado de TV por assinatura deve crescer 47% em dois anos, e o de banda larga, 49% no mesmo período.
— Somente em 2010, está havendo um aumento de 26 milhões de linhas de celular.
Isso é duas vezes o mercado de Portugal — explica o presidente da Teleco, Eduardo Tude.
As empresas terão um cronograma pesado de investimento nos próximos anos. De acordo com José Roberto Mavignier, da consultoria Frost & Sullivan, um dos pontos principais é a ampliação da rede móvel para a Copa do Mundo: — As Olimpíadas serão no Rio, que já tem uma rede mais implementada. Na Copa do Mundo, haverá jogos em cidades como Manaus e Cuiabá.
É crucial investimento em rede móvel porque haverá jornalistas e turistas de todo o mundo conectados com laptops e aparelhos celulares.
Também é preciso investir nas saídas internacionais do Brasil, para que não haja problema nas ligações para o resto do mundo. Além disso, é preciso interligar as redes aqui dentro — disse.
A carga tributária de um serviço de telefonia pode chegar a até 45%, reclama o presidente da GVT, Amon Genish.
Isso significa que um consumidor que pagar R$ 100 por um produto está entregando R$ 45 aos cofres do governo em forma de impostos.
O governo está ressuscitando a estatal — Telebras — para instalar banda larga em áreas remotas, numa decisão ainda confusa.
José Roberto Mavignier diz que ainda há poucas informações sobre o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL): — O plano foi anunciado, mas não sabemos quem estará envolvido, se haverá outros agentes além do governo e se haverá garantia de qualidade do serviço prestado — afirmou.
Com as mudanças, o grupo espanhol Telefónica mirou o estado de São Paulo ao ampliar sua participação na Vivo.
A Portugal Telecom quis ficar e para isso comprou os 22,4% da Oi. O governo brasileiro abandonou a ideia de ter uma tele só brasileira. Em Portugal, o que se discute é que a empresa não pagará imposto pelo enorme lucro com a operação porque a sede da companhia que vendeu o ativo fica na Holanda. O grupo Slim consolida a ClaroEmbratel-Net. A Vivendi ficou com a GVT, que é pequena mas tem crescido. A Vodafone pode ficar com a TIM.
Enquanto toda essa divisão do mercado ocorre no Brasil, no México, cujo modelo de privatização não foi como o nosso, que incentivou a competição, a situação é de quase um monopólio.
— A Telmex foi vendida integralmente e não dividida como foi aqui. O grupo que comprou, o de Carlos Slim, tem também 90% da telefonia celular — diz Schymura.
A analista-chefe da Ativa Corretora, Luciana Leocádio, diz que grupos de países desenvolvidos deixaram o país por dificuldade de adaptação de como fazer negócios na América Latina.
— Já houve mais grupos, canadenses, franceses, mas que saíram aos poucos porque não tinham muita estratégia para a região — explicou.
Schymura lembra que a Bell South também entrou no Brasil, mas depois saiu porque havia dúvida sobre se o país respeitaria os contratos. Hoje, 12 anos depois da privatização, o mercado está consolidado e crescente.
Entrevista:O Estado inteligente
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