FOLHA DE S. PAULO
BRASÍLIA - São movimentos articulados: enquanto a bancada do PT no Senado entra por uma porta no palácio de Lula para salvar Sarney, a senadora Marina Silva sai do partido pela outra porta para defender suas bandeiras, ou seus princípios.
Enquanto a bancada se divide, Marina vai somando. Com gente como Gabeira, Cristovam e Gil, com o PV e o desenvolvimento sustentável, os setores desconfortáveis do PT, a estridência dissidente do PSOL, o legítimo direito de Ciro Gomes de concorrer.
O resultado é um cerco a Dilma Rousseff, num momento decisivo: o Datafolha acaba de mostrar que ela interrompeu o seu crescimento em 16%. Não é um índice ruim, mas é um teto baixo e prematuro.
Ao despontar, Marina bloqueia o caminho de Dilma, que precisa avançar e aproximar seu potencial dos 70% de Lula para mostrar vitalidade ao PMDB e à cúpula, às bases e à militância petista. Ontem, o senador Flávio Arns disse que estava "com vergonha" do partido e do voto antiético no Conselho de Ética. Quantos não estarão?
Dilma parece estar no seu inferno astral. Além da radioterapia, ela enfrenta a entrada em cena de Marina, o empate com Ciro nas pesquisas, o envolvimento desgastante de Lula e do PT com a defesa de Sarney e, enfim, a cristalização da imagem de mentirosa (diploma, dossiê contra FHC, embate com Lina Vieira, versões divergentes de sua ação no caso Varig).
Do outro lado, José Serra despista os holofotes, come buchada em paz no Nordeste e vai mantendo sólido favoritismo, com leves oscilações. Dilma já está apanhando, mas ele parece ainda preservado. Há dúvidas, porém. Uma delas é se Marina tira voto só de Dilma ou se divide com Serra o voto anti-Lula e anti-PT. Outra é se esse cenário de pulverização governista anima o embate ou produz a unidade no PSDB. Falta saber o que anda fazendo, e caraminholando, o governador de Minas, Aécio Neves