A economia mundial está se afastando da recessão, mas enfrenta ainda o desafio do desemprego para voltar a se expandir. Há sinais crescentes de que a recessão recua nos Estados Unidos, onde o número de desempregados parou de aumentar, mas ainda é elevado para os padrões de país desenvolvido.
Barack Obama , que fez uma revolução em apenas 200 dias, comemorou o fato de o desemprego ter parado de crescer. Afirmou que "o pior ficou para trás". Mas não se pode falar em recuperação enquanto o nível de desemprego continuar em 9,4%. Há um ano, era de 6%. Nada menos que 6,7 milhões de trabalhadores foram despedidos desde o início da recessão.
Pode-se dizer que a recessão americana está no começo de um fim esperançoso, mas difícil. Se voltar a crescer entre 2% e 2,5% ainda este ano, como se prevê agora, pode-se dizer que os Estados Unidos e o mundo talvez tenham vivido uma grande, mas não longa recessão. Se o PIB voltar a crescer até o fim do ano, seria o primeiro resultado positivo em quatro trimestres.
VÃO CRESCER MESMO?
Mas essa estimativa não estaria sendo por demais otimista? Será que o mundo, ajudado por China, Índia e Brasil, sai mesmo da recessão este ano?Até agora, pode ser que sim, embora isso dependa em parte da recuperação europeia, que está atrasada. Ainda nesta semana, o Banco Central Europeu se recusou a reduzir a taxa básica de juros por temer a inflação.
Só que hoje não há inflação na Europa, mas deflação de 0,1%. A Europa vai retardar, mas provavelmente não impedirá que a economia mundial volte a crescer ao menos um pouco em 2009.
Se não, vejamos. Há claros sinais de reação nos Estados Unidos. Desde agosto, as vendas de carros aumentaram 15%; hoje o governo oferece desconto de até US$ 4,5 mil para quem jogar fora o carro velho e comprar um novo que consuma menos gasolina e polua menos. Em 12 meses, foram vendidos 11,2 milhões de veículos.
Os preços das casas nos EUA recuaram 0,2% entre abril e maio. Foi a menor queda em dois anos de crise profunda, depois do estouro escandaloso da bolha imobiliária.
O desemprego continua alto, mas os analistas atribuem isso a fatores que não podem ser diretamente ligados à simples desaceleração da atividade econômica (pesam, sim, porém menos.) O primeiro fator é que, por causa da maior ajuda aos desempregados, muitos não sentem tanta urgência em aceitar qualquer colocação. Têm espaço para procurar mais.
De acordo com o Fed, isso pode estar pesando 0,5 ponto porcentual na atual taxa de desemprego de 9,4%.
O mesmo é válido para as famílias, que têm agora mais facilidade e ajuda do governo para pagar hipotecas atrasadas.
Outro fator importante é o aumento da produtividade. Pressionadas pela crise, as empresas estão procurando reduzir custos adotando sistemas que permitem maior produção por trabalhador.
Como se vê, não são fatores estruturais, podem ser superados com mais estímulo fiscal, monetário e financeiro
O QUE AJUDOU MESMO
O saneamento do sistema financeiro é apontado pelos analistas como uma das causas iniciais desse processo de recuperação. Ele restabeleceu a credibilidade no governo. Em 200 dias de governo, a equipe de Obama fez uma verdadeira varredura nos bancos, limpou passivos, socorreu empresas à beira da falência, como a GM, e deu mais segurança de que o que aconteceu com o Lehman Brothers não acontecerá de novo.
Falta convencer os bancos a voltar a emprestar como na fase pré-crise, falta enquadrar alguns, mas a ação do governo foi decisiva. Isso foi um sinal firme de que não haveria mais choques ou surpresas, deu mais tranquilidade às pessoas, que passaram a pensar em gastar mais, trocar de carro e voltar a comprar imóveis, aproveitando os preços desvalorizados.
O PACOTE QUE SALVOU
Outro fator foi o pacote fiscal de US$ 787 bilhões, que estava emperrado no governo Bush. Nada menos que 36% foram em cortes de impostos que beneficiaram 95% dos trabalhadores; 36% foram destinados às famílias e aos Estados, em crise. Os demais 28% serão aplicados em obras, que demorarão ainda para ser executadas porque não havia projetos prontos.
TAMBÉM FIZEMOS ISSO
Aqui, o desemprego continua elevado, 8,1% em junho. Menor, porém, que os 9% de março. Não tivemos o choque brutal do sistema bancário americano, nosso sistema era forte, estávamos crescendo mais de 5% antes da crise e, acima de tudo, antecipamos um pacote anticíclico que evitou GMs no Brasil. A indústria automobilística foi socorrida logo aos primeiros sinais de recessão.
Para que lembrar o que já temos dito algumas vezes? É para mostrar mais uma vez que, enquanto o mundo caminha para sair da recessão, nós já estamos nos livrando dela.