Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 04, 2009

CELSO MING - Mudança nas cabeças

O ESTADO DE S PAULO
O.
Até recentemente se imaginava que os tempos de vacas gordas ou vacas magras eram apenas consequência do desenvolvimento de forças naturais. Depois se viu que esse viés determinista é limitado e que é preciso dar a devida importância ao fator humano.

Esta crise e os prováveis tempos pós-crise estão mostrando que ela está em grande parte na cabeça das pessoas. E, se é preciso intervir nas crises, é preciso intervir, também, nas expectativas e, portanto, na cabeça dos agentes da economia.Até recentemente se imaginava que os tempos de vacas gordas ou vacas magras eram apenas consequência do desenvolvimento de forças naturais. Depois se viu que esse viés determinista é limitado e que é preciso dar a devida importância ao fator humano.

O primeiro a falar de vacas gordas e magras foi José, filho de Jacó, que se tornou alto funcionário do faraó do Egito. Ele ensinava que, por piores que sejam os tempos de carestia, sempre há condições para mexer no processo e reduzir efeitos indesejáveis.

A Grande Depressão foi o que se sabe, mas produziu o maior economista do século 20, o inglês John Maynard Keynes, que recomendou aumento das despesas públicas como instrumento de combate à crise. Mas foram dois dos seus críticos, os economistas americanos Robert Lucas e Thomas Sargent, que na década de 70 chamaram à atenção para o papel das expectativas na formação e na superação das crises.

Para ficar apenas com esta crise, houve, sim, as bolhas e, antes delas, os fatores físicos já conhecidos que as assopraram. Mas o drama virou pandemônio só em setembro, quando autoridades americanas deixaram o Lehman Brothers afundar. O pânico e as expectativas deterioradas pioraram tudo.

De lá para cá, as autoridades responsáveis pela condução da política econômica despejaram algo entre US$ 10 trilhões e US$ 12 trilhões para evitar que a economia global derretesse, mas, acima de tudo, procuraram atuar nos corações e nas mentes. Hoje, o mundo trabalha com outra ideia.

Ainda que nada de espetacular tivesse mudado a qualidade dos ativos dos bancos, não se esperam mais quebras em cadeia. Ninguém fala em Grande Depressão n.º 2. O estribilho que os agentes começam a assoviar, quase em uníssono, é o de que o pior já passou. Isto é decisivo e pode ter determinado a virada.

Ontem, Larry Summers, principal assessor econômico da Casa Branca, observava na TV: Há seis meses, quando o presidente Obama assumia o governo, o que se discutia é se a recessão se transformaria ou não em depressão. Agora, o assunto é se a recessão acabou ou se ainda não.

O secretário do Tesouro, Tim Geithner, e o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan bateram no mesmo tambor. Tenho certeza que já vimos o fundo (do poço), disse Geithner. E Greenspan completou: Colapso não está mais sobre a mesa.

Ninguém dispensa cuidados e ponderações. Geithner e Summers advertem que o desemprego pode aumentar. E inúmeros economistas avisam que o consumo, que pesa mais de 70% no PIB americano, seguirá retraído. Mas a cabeça das pessoas não acredita mais no apocalipse now. E isso define muita coisa. Implica sair de posições defensivas demais; investir rapidamente para não ser surpreendido com falta de capacidade de produção quando o jogo tiver virado; voltar a contratar e assumir riscos.

Enfim, o comportamento do sistema produtivo não é apenas resultado de uma enorme lista de dados macroeconômicos. É também o estado de espírito ou aquilo a que cada vez mais se dá importância: o índice de confiança dos agentes econômicos.

CONFIRA

Baqueou - O superávit comercial de julho caiu 42%, bem mais do que o esperado. É cedo para afirmar que o jogo está virando. É necessário esperar um pouco para conferir até que ponto a China passou a importar menos do Brasil.

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