JORNAL DO BRASIL
A crise da roubalheira no Senado explodiu com estrondo de uma bomba com discursos de veemência de comícios de final de campanha, com senhores de cabelos grisalhos ou a calva à mostra trocando desaforos e ameaças de desforço pessoal; a polarização cheia de rachaduras entre a equipe governista, comandada por Lula e fiscalizada pela ministra-candidata Dilma Rousseff, e o bloco da oposição embaralhado pelas várias alas com interesses contraditórios.
Nos primeiros meses da caminhada, a popularidade recordista de Lula, furando o teto das pesquisas com índices acima dos 80%, e a oposição com a dupla indecisa de aspirantes, composta pelos governadores José Serra e Aécio Neves, a temperatura no Senado com a mais grave crise ética da crônica do Legislativo incendiou os debates e as denúncias. Entre a esquiva de malandro de fingir que não sabia de nada e o pasmo pelo tamanho do rombo, o Senado cambaleou à beira do precipício. E esta é uma das singularidades do desaguisado: o fio da meada enrosca-se na renúncia do aloprado presidente Jânio Quadros com sete meses de mandato e a reação militar à posse do vice-presidente Jango Goulart.
Escapamos da tragédia de uma guerra civil, com a violenta reação do governador Leonel Brizola em defesa da posse do cunhado Jango Goulart, que levantou o Rio Grande do Sul com o apoio das forças governistas. De Minas, com a articulação do governador udenista Magalhães Pinto, os batalhões do Exército e da Polícia Militar, sob o comando do general Olímpio Mourão Filho que anunciou aos quatro ventos que ia descer a serra para derrubar o governo, mas levou três dias para fazer a barba, vestir a farda e iniciar a caminhada. Quando chegou ao Rio, encontrou o general Arthur da Costa e Silva, autoempossado como ministro do Exército, e o general Castello Branco na Presidência da República.
Deste mau começo de uma revolução sem um tiro, para restaurar a democracia e que desembocou numa ditadura de quase 21 anos e cinco generais-presidentes e que dissolveu os partidos para impor o bipartidarismo de proveta, com tortura, atos institucionais, recessos punitivos do Congresso, cassação de mais de uma centena de mandatos, o senador biônico, o atentado do Riocentro, não se podia esperar boa coisa. A eleição indireta do presidente Tancredo Neves, que morreu antes de tomar posse, foi contornada com a posse do vice, José Sarney. E com a eleição de Fernando Collor, o azarão que disparou na reta de chegada, a recaída na crise da sua renúncia para evitar a cassação. O vice Itamar Franco assumiu a Presidência, deu conta do recado e terminou o mandato com 90% de aprovação, graças ao êxito do Plano Cruzado que derrubou a inflação.
No mais, os dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso e os seis anos dos dois mandatos do presidente Lula são história de ontem e de hoje. Com um largo espaço para o encaixe da mudança da capital, em 21 de abril de 1960, do Rio para Brasília inacabada, um canteiro de obras no cerrado, depois dos sete meses do governo de Jânio, da turbulência do governo de Jango, dos 21 anos da ditadura militar, o Congresso cavou a sua sepultura com a orgia das mordomias e suas variantes da verba indenizatória, as quatro passagens aéreas para o fim de semana nas suas bases eleitorais, as nomeações sem concurso e o truque de malandro do carimbo de secreto para encobrir a patuscada das vendas de passagens, das gratificações e demais escândalos da roubalheira. É nesta moldura de madeira podre que se encaixa o corre-corre de senadores – enquanto os deputados tomaram chá de sumiço – para improvisar um acerto dos ponteiros para terminar este ano aziago e entrar com o pé direito na campanha de 2010, quando a maioria jogará mais quatro anos de um dos melhores empregos do mundo.
O presidente-viajante Lula aconselha o senador José Sarney a manter a calma enquanto se esforça para conter a rebeldia do PT. Numa bobeada da base governista, a oposição conseguiu aprovar a convocação da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira para depor da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, em reunião marcada para a próxima terça-feira. Lina revelou que recebera da ministra Dilma o pedido para acelerar as investigações contra as empresas ligadas ao presidente José Sarney. E entendeu que o pedido era para encerrar as investigações.
A ministra Dilma desmente que tenha se encontrado com a ex-secretária Lina Vieira ou feito qualquer pedido. E a chefe de gabinete da Receita Federal, Iraneth Weller, garante que Erenice Guerra, secretária da Casa Civil, afirmou que nunca esteve no gabinete de Lina. Se não for negociada uma saída, a reunião da CCJ de terça-feira promete um espetáculo que lotará o auditório. Em mais um palpite infeliz, Lula declarou que "o debate no Senado chegou a tal ponto que ficou incompreensível para a população". O presidente está enganado: a população está compreendo tudo, daí o medo do elenco da patuscada. Talvez faça mais sucesso os atores fecharem o espetáculo cantando o samba do gaúcho Lupicínio Rodrigues :
"E o remorso está me torturando/ Por fazer a loucura que eu fiz".
Entrevista:O Estado inteligente
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