Da mesma forma que não há clareza sobre o comportamento do câmbio nos próximos meses, também não se controlam as variáveis que definem a inflação.
Na coluna de domingo foi lembrado que são três os principais fatores de desvalorização do real: (1) a perda de receitas com exportações em conseqüência da queda dos preços das commodities e da retração da demanda global; (2) as remessas extraordinárias feitas pelas filiais das empresas estrangeiras que vêm sendo convocadas para socorrer o caixa combalido de suas matrizes; e (3) a atuação dos fundos de hedge, que estão sofrendo fortes saques e têm liquidado ativos brasileiros, principalmente ações e títulos do Tesouro, e têm de converter reais em dólares.
Esses fatores ainda deverão pressionar a cotação do dólar em reais e, provavelmente, acentuar o déficit nas contas externas (conta corrente). Mas a variável decisiva não é o tamanho do rombo externo; é a disposição do resto do mundo em financiá-lo, seja ele de 1%, 2% ou mais do PIB. E será a falta ou não de dólares que resultar dessa cobertura externa que definirá o principal fator que vai determinar o comportamento do câmbio nos próximos meses.
Também não há elementos suficientes para calcular a eventual transferência dos efeitos da desvalorização cambial para os preços internos (pass through), na medida em que a alta do dólar pudesse encarecer em reais os produtos importados ou os que, embora produzidos internamente, são cotados em moeda estrangeira, como soja, café e minérios.
As incertezas sobre o câmbio não são a única incógnita na equação dos preços internos. A inflação ainda vai depender de três fatores adicionais cujo comportamento também é difícil de prever. Dois deles tendem a puxar a inflação para baixo e o outro, a puxar para cima.
Puxam para baixo a demanda provavelmente mais contida no mercado interno. O consumidor está mais cuidadoso e já não acorre ao shopping center com a avidez dos últimos dez meses. Como o mundo rico estará em recessão ou muito próximo disso, deverá sobrar algum excedente que antes tinha mercado externo assegurado. São movimentos que deverão conter a alta de preços.
Também se espera que as cotações de grande número de matérias-primas continuem em queda ou fiquem estáveis. É o que deverá também ajudar a segurar a inflação.
Entre as pressões altistas, destaca-se a que possa provir do câmbio. Se houver maior desvalorização do real, tal como acima lembrado, os preços internos poderão sofrer impacto. O outro fator é de natureza política. Se quiser convencer o eleitor a escolher o candidato a ser apresentado pela coligação do governo, o presidente Lula terá de mostrar mais serviço do que vem mostrando. E isso, em princípio, desembocará em fartura de despesas públicas, que poderá ter impacto sobre a demanda interna.
Será preciso ver ainda com que determinação e com que eficácia o Banco Central combaterá os novos focos de inflação por meio da política monetária.
A meta de 2009 é de 4,5%, com os dois pontos porcentuais de tolerância, tanto para cima como para baixo. Mas sabe-se lá se apenas com juros será possível segurar as pressões sobre os preços que resultarem de tantas variáveis difíceis de controlar.
A percepção de aprofundamento da recessão global e as incertezas sobre o comportamento futuro da economia derrubaram os mercados. Nas próximas semanas, o único fator que parece capaz de reduzir o nível de ansiedade se chama Barack Obama.
Entrevista:O Estado inteligente
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