Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 04, 2008

Um presidente negro? Merval Pereira

NOVA YORK. Nunca uma eleição pareceu tão decidida, e nunca se viu uma expectativa maior, tanta dúvida sobre o resultado final, sem base em nenhum fato concreto, apenas o receio de que a realidade das urnas hoje acabe sendo diferente daquela que tudo indica ser a tendência natural revelada pelas pesquisas de opinião desde o meio de setembro, a eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Um simbolismo de mudança na maior potência mundial, uma demonstração de maturidade da democracia americana.

De fato, não há nenhuma razão para se acreditar que o candidato republicano John McCain possa virar o resultado a seu favor quando 24 horas antes todas as pesquisas indicam a vitória do candidato democrata tanto no voto popular quanto no Colégio Eleitoral.

Mas muitos acreditam em bruxas neste país.

Segundo o Instituto Gallup, que divulgou ontem sua última pesquisa antes da eleição colocando Barack Obama na frente por 52% a 41%, apenas em duas ocasiões desde 1952 ocorreram erros nas pesquisas: na disputa entre o então presidente democrata Jimmy Carter e o republicano Ronald Reagan em 1980, quando no dia da eleição Carter tinha uma diferença de um ponto percentual a seu favor e acabou perdendo por 10 pontos; e em 2000, quando Al Gore era dado como derrotado pelas pesquisas de opinião e terminou vencendo no voto popular, mas perdendo no Colégio Eleitoral com uma derrota da Flórida tida como viciada.

Este ano, Obama está na dianteira em todas as pesquisas de voto popular e superou o número mágico de 270 votos no Colégio Eleitoral por margem que vai de 8 a 58 votos, dependendo do critério. Há um consenso entre as pesquisas de que Obama vencerá em todos os 13 estados em que John Kerry e Al Gore venceram nas duas últimas eleições, perfazendo um total de 241 votos.

A diferença dele para McCain nesses estados é sempre maior do que as margens de erro, que podem chegar a 4 pontos percentuais nas pesquisas estaduais. Além disso, Obama está vencendo também em três estados em que os democratas ganharam pelo menos uma das duas últimas eleições.

Em New Hampshire, que tem apenas 4 votos no Colégio Eleitoral, Obama está vencendo por uma margem de 10,6, enquanto Kerry venceu em 2004 por 1,3 e Bush venceu em 2000 por 1,3. Em Iowa, que tem 7 votos eleitorais, Obama vence por 15,3, quando Gore venceu por 0,3 em 2000 e Bush ganhou por 0,7 em 2004. No Novo México, com 5 votos, Obama está na frente por 7,3, quando Bush venceu em 2004 por 0,6 e Gore venceu em 2000 por 0,1.

Há outros cinco estados tradicionalmente republicanos, ou pelo menos em que Bush venceu as duas últimas eleições, que estão dando a vitória a Obama por diferenças que estão dentro da margem de erro.

Na Flórida, com 27 votos, a margem é de menos de 2 pontos; Virgínia, com 13 votos, a margem é de 4,3; Ohio, com 20 votos, a margem é de 3,2; Colorado, com 9 votos, a diferença é de 5,5 e Nevada, com 5 votos, a diferença é de 6,2.

Esses estados somam 74 votos, retirados da base republicana.

Nos últimos dias, McCain está tentando se recuperar pelo menos nos dois últimos, onde, embora a diferença seja maior a favor de Obama, o eleitorado é considerado mais passível de um ataque republicano, além de tentar mudar a situação no Novo México.

A Pensilvânia, um estado tradicionalmente democrata, tem 21 votos e onde Obama lidera por cerca de 8 pontos, é o grande sonho de consumo dos republicanos. Se conseguissem virar o jogo lá, acham que teriam chance de reverter o resultado do Colégio Eleitoral.

Mas não há nenhuma indicação de que essa estratégia venha a dar certo.

Outros sete estados estão na disputa, com desvantagem para McCain, já que em todos eles o Partido Republicano venceu nas duas últimas eleições: no Arizona, que tem 10 votos eleitorais, Obama vence por 3,5; na Geórgia, com 15 votos eleitorais, Obama supera McCain com 4 pontos.

Em outros quatro estados, McCain está vencendo, também dentro da margem de erro: Missouri, que tem 11 votos eleitorais, McCain vence por 0,5; na Carolina do Norte, que tem 15 votos, o republicano vence por 0,6; em Indiana, que tem 11 votos, McCain vence por 1,4 e Montana, com 3 votos eleitorais, McCain supera Obama por 3,8.

Embora as pesquisas de voto popular mostrem Obama na frente com uma vantagem de 7,3, segundo o site Real Clear Politics, que calcula a média entre todas as pesquisas, há alguns fatores a serem ultrapassados.

Um deles é o voto indeciso, que ainda está em 10%.

Pelas técnicas de pesquisa, esse número deve ser dividido proporcionalmente entre os competidores, o que manteria uma diferença a favor de Obama.

Mas há o temor entre os democratas de que esses indecisos na verdade sejam majoritariamente contrários a Obama, com vergonha de se pronunciar.

Esse seria o efeito Bradley, um fenômeno eleitoral que não se sabe se ainda está em vigor nos Estados Unidos atual. O nome deve-se ao prefeito de Los Angeles, Tom Bradley, um negro que se candidatou ao governo da Califórnia em 1982 e perdeu surpreendentemente, depois de aparecer como líder das pesquisas durante toda a campanha.

Um estudo da Universidade de Stanford mostrou que existe uma diferença de até seis pontos percentuais das pesquisas para as urnas quando um candidato negro está na disputa.

Há também a esperança dos democratas de que se confirme a alta taxa de comparecimento na eleição, consequência da maior participação de jovens e integrantes de minorias devido à possibilidade de Obama ser eleito.

Segundo os últimos dados divulgados pelo Centro de Estudos Políticos e Econômicos, em Washington, 84% dos eleitores negros se identificam como partidários de Obama, e 10% são indecisos. Apenas 6% apóiam John McCain.

Se houver um resultado apertado, contra todas as previsões, e uma vitória controvertida de McCain, o temor é de que, ao contrário de 2000, se espalhem pelo país movimentos de revolta contra uma possível fraude eleitoral

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