Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 08, 2008

Por que o mundo festejou

O presidente do mundo

A eleição de Obama desperta uma onda de celebrações
em todo o mundo porque, com ela, os EUA mandam uma
mensagem de tolerância e anunciam o fim da era Bush


André Petry

Fotos Rob Griffith/AP, Tara Todras-Whitehill/AP, Natacha Pisarenko/AP, Alessandro Abbonizio/AFP, Gregorio Borgia/AP, Ricardo Gangale/AP, Itsuo Inouye/Apdarko Bandic/AP, Sam Panthaky/AFP, Akintunde Akinceye/Reuters, Boris Horvat/AFP e Thanassis Stavrakis/AP
FESTA MUNDIAL
As manchetes e as comemorações pelo mundo: bom começo para Obama, mas isso tudo agiganta as expectativas em torno de seu governo

No assassinato de John Kennedy, em novembro de 1963, o mundo todo se espantou. Nunca antes, nem depois, o planeta ficara mesmerizado diante do destino de um presidente dos Estados Unidos – até a semana passada. A eleição de Barack Obama despertou uma onda de comemorações pelo mundo afora como jamais se viu. Num muro na cidade de Ramallah, palestinos pintaram um Obama com um ramo de oliveira e uma pomba branca na mão, saudando sua vitória como se fosse um mensageiro da paz. Houve festa em Paris e Berlim, onde durante a campanha Obama fez um discurso para 200.000 pessoas. Os jornais escancararam manchetes na Itália, na Índia, na Argentina, no Brasil, sem falar nas comemorações dentro dos Estados Unidos, promovidas por americanos e estrangeiros, cidadãos e imigrantes. No dia 4 de novembro, Barack Obama pareceu o presidente do mundo, pelo menos por um dia. A vibração planetária é uma resposta à sua mensagem de tolerância, que está na cor de sua pele e no seu discurso, voltado para a negociação e a diplomacia. É, também, a comemoração pela proximidade do fim do governo de George W. Bush, em níveis inéditos de antipatia dentro e fora dos EUA.

Era uma reação previsível. Uma recente pesquisa da BBC, realizada em mais de vinte países, descobriu que quatro em cada cinco estrangeiros torciam pela vitória de Obama. Eram exceções os países em que o republicano John McCain tinha apoio da maioria – Israel, Filipinas e Geórgia, conforme se apurou em outra pesquisa. É uma boa notícia para Obama, que chega ao posto de presidente despertando tamanha simpatia mundial. É, também, uma boa notícia para os Estados Unidos, cuja imagem internacional está profundamente desgastada pelos quase oito anos da política arrogante e imperial de Bush. Mas tudo isso também agiganta o desafio de Obama. Dele se espera quase tudo: que promova a paz no Oriente Médio, controle os ímpetos imperiais da Rússia, dê atenção especial à América Latina, contribua para evitar o aquecimento global, supere a crise financeira mundial, evite uma recessão dolorosa... Dentro dos Estados Unidos, dele se espera que adote um sistema universal de saúde, rompa com a dependência do petróleo, produza energia limpa e renovável, promova a paz, apanhe Bin Laden, revalorize o dólar... As expectativas em torno do desempenho de Obama são tão altas que é praticamente impossível que ele consiga atendê-las. Por isso, é bom que o mundo comemore. Não se sabe até quando haverá clima de festa.

Arquivo do blog