Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 04, 2008

O mercado reage ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

Depois de uma semana negra para as bolsas de todo o mundo, o período que se iniciou em 27 de outubro aponta em cadeia reações positivas nos diferentes mercados.

Aqui no Brasil não fomos exceção, e o Ibovespa teve comportamento altamente positivo.

Uma série de fatores pode explicar esse comportamento no exterior e aqui.

1. Os bancos centrais, e autoridades monetárias em geral, continuam atuando de forma agressiva para minimizar os efeitos da crise financeira e seus desdobramentos no comportamento das economias desenvolvidas.

A preocupação evidente é de evitar que entremos numa recessão incontrolável, que poderia levar a uma depressão.

Pessoalmente, acho que os instrumentos hoje disponíveis e as ações concertadas entre os diferentes países não se parecem ao que aconteceu a partir de 1929. É certo que vamos sofrer as conseqüências de um desaquecimento global, mas não vejo o perigo de uma depressão.

2. Nos Estados Unidos, como era esperado, o Federal Reserve (banco central americano) reduziu para 1,5% a taxa prime de crédito. Isso, além do aspecto financeiro, tem um enorme simbolismo.

Vale lembrar que, há meses, se falava da inevitabilidade de o Fed ter que aumentar os juros para cortar efeitos inflacionários. Pelo menos a curto prazo essa preocupação parece afastada, mesmo porque o desaquecimento das economias diminuirá as pressões inflacionárias.

3. Iniciaram-se efetivamente as capitalizações de instituições financeiras nos Estados Unidos e na Europa, e a disponibilidade de crédito para que os sistemas voltem a operar.

4. Numa providência inédita, o Federal Reserve anunciou ter colocado à disposição do nosso Banco Central, para intervenções no mercado de câmbio, o equivalente a U$ 30 bilhões.

Os recursos serão liberados para 4 países: Cingapura, Coréia do Sul, México e Brasil. Novamente, independentemente dessa importante retaguarda financeira, tal disponibilidade de recursos tem enorme simbolismo para nosso país, deixando evidente o apreço pela gestão monetária e macroeconômica do país.

5. O FMI também aprovou a criação de uma nova linha de crédito de curto prazo para suprir liquidez exterior aos países membros. As condicionantes para cada país estão ligadas à manutenção de uma política monetária e econômica saudável, inflação baixa e dívidas administráveis.

Perguntado na reunião, o diretor-geral do FMI disse que o Brasil estará habilitado, o mesmo não acontecendo com a Argentina.

6. A realização das eleições norteamericanas deve eliminar essa enorme ansiedade do futuro governante e sua política. Tenho uma visão positiva a esse respeito.

Aqui, como era defendido em opinião quase unânime, o Bacen manteve a taxa de juros em 13,75%. Não faz qualquer sentido aumentar juros nas atuais circunstâncias, até que as variáveis locais e globais estejam mais bem definidas.

Creio até que, na próxima reunião, possa ser seriamente considerada uma redução de juros, dependendo, obviamente, do comportamento da economia.

Estão sendo anunciados programas de apoio à indústria de construção civil com novas linhas de crédito, e o presidente da República deixou claro sua preocupação em que não haja desemprego na indústria automobilística.

O Banco Central continua atuando no sentido de garantir liquidez ao sistema, para que as operações de crédito possam voltar gradualmente a um nível satisfatório.

Os 3 maiores bancos privados anteciparam a divulgação dos resultados do trimestre encerrado em setembro, desanuviando o ambiente e desabonando notícias infundadas que circulam no mercado.

O recuo do dólar e a decisão de várias companhias de liquidar operações de derivativos que foram afetadas pela valorização da moeda trouxeram também maior tranqüilidade ao mercado.

Assim, a semana que vai se encerrando indica um quadro de maior tranqüilidade em que os problemas gradualmente estão sendo equacionados.

Os mercados de ações que antecipam resultados futuros estão apostando numa recuperação, muito embora tão rápida elevação nas cotações estimule realizações de lucro a curto prazo.

É cedo para querer virar a página, mas indiscutivelmente temos sinais bem mais animadores.

Esperamos que essa tendência possa ser confirmada nas próximas semanas.

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