Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 13, 2008

O governo está meio perdido Alberto Tamer

O governo está atento à crise internacional, mas parece não ter entendido ainda que ela é bem maior do que imagina.Muito maior do que o ministro Guido Mantega fala e do que o presidente procura mostrar ao público. Lula oscila entre uma "preocupação tranqüila", seja lá o que isso for, um aviso mais sério sobre sua repercussão no Brasil e o medo de criar pânico. Não precisa, não, presidente. Somos um povo compreensivo e sempre acreditamos no melhor.

O governo agiu corretamente ao antecipar-se à queda da liquidez. Ofereceu recursos ao sistema financeiro, anunciou que está financiando as exportações, mas não sabe, e parece nem ter idéia, do que ainda precisa fazer. No fundo, está deixando a impressão de que não existe plano, que está tapando buracos aqui e ali, na esperança de que a avalanche que está chegando aqui não rompa a barragem que nos protege.

PRESIDENTE, RIR POR QUÊ?

Sabem, achei muitíssimo estranho o clima bem humorado da última reunião do presidente com "ministros da crise". Não faltaram brincadeiras e até piadas. Parece que o único que só sorriu com os lábios fechados foi o Henrique Meirelles, que sente o rojão queimando em suas mãos.

Não precisa assustar, mas reconhecer que, nas últimas semanas, o cenário externo se agravou, que as medidas adotas nos Estados Unidos não estão funcionando, como admitiu ontem o secretário do Tesouro americano, Henry Paulson

Não sei, não,mas parece que o governo ainda acredita que o furacão que ruge lá fora quando chegar aqui vai se transformar em simples ventania que poderá agitar as palmeiras. mas não derrubar telhados.

GOVERNO JÁ FEZ MUITO...

Mas, senhor colunista, você não tem dito que o governo se antecipou, que está agindo no caminhoa certo? Sim,sim, está certo no que fez até agora. Deu mais mais recursos ao setor imobiliário - isso é otimo - que vinha impulsionando o crescimento; está oferecendo apoio aos bancos; está ajudando a exportação; deu mais dinheiro para a agricultura. Mas ainda é pouco, A agricultura já sofre e precisa mais. O próprio governo reconhece que os recursos para as exportações são insuficientes. Isso mostra que ou não procurou ou ainda não conseguiu dimensionar as proporções da crise externa e seus efeitos aqui. A impressão é que, entre perdido e perplexo, ele se pergunta: "E agora, o que fazer? De quanto vou precisar?"

Tudo indica que não tem idéia, não sabe. Parece correr de um lado para outro, como a apagar brasas iniciais de incêndios que surgem a cada instante. Agora a indústria automobilística que dá férias coletivas, depois os imóveis, o comprador de geladeira...Afirma que tem água no reservatório - tem sim, US$ 200 bilhões que sabiamente acumulou -, mas não sabe de quanta água mais vai precisar.

DINHEIRO DE FORA, PRESIDENTE

O que fazer? Primeiro, um levantamento o mais completo possível dos setores que serão logo atingidos. E aqui estão o investimento das empresas e o consumo.Não adianta o presidente do Banco Central dizer que o consumo interno continua aquecido, que o crédito continua bom, que há dinheiro. Meirelles sabe muito bem que há grandes empresas dando férias coletivas ou propondo descanso sem remuneração aos seus empregados. Diante disso, é inevitável que a demanda interna recue logo mais. Na verdade, só não recuará logo por causa do 13º salário que entra parcialmete este mês, mas ele é fortuito, passa logo.

É evidente que a economia está sendo impulsionada pelo crescimento anterior de 5,2%, mas o próprio governo prevê algo em torno de 3,5% ou menos em 2009. A economia só voltará a crescer se houver mais investimento do setor privado em produção, do governo (e não me venham falar de "PACmanco")em muitas, muitas licitações para obras públicas. Aqui, tudo caminha na área federal com a velocidade de tartaruga reumática.

O que estão esperando em Brasília para escancarar de vez as portas dessa infra-estrutura esfrangalhada?

Não há interesse externo? Há, sim. Agora que a festa financeira acabou, eles querem investir em obras que fujam da insegurança do mercado financeiro, desde que o governo lhes dê garantias firmes de que, depois, não vai alterar, intervir e alterar os contratos assinados

Para isso, é extremamente importante que o presidente chame as empresas estrangeiras e reafirme com toda solenidade que, neste momento de crise mundial, o Brasil é uma grande oportunidade para investimento em infra-estrura, está aberto para todos, e é um porto seguro, como tem sido até agora.

Os investimentos externos diretos podem ter recuado um pouco nos últimos meses, mas ainda se aproximam de US$ 30 bilhões. É só criar oportunidades e virão mais. Investimento gera produção, consumo de matéria- prima. Demanda interna gera emprego e, no retorno do fim da linha, mais investimento.

E então, senhores de Brasília, o que estão esperando para para abrirem ainda mais o País para o capital externo que poderá nos ajudar a enfrentar o furacão que ainda vem por aí? Vamos, senhores, não há um segundo sequer a perder.

*E-mail: at@attglobal.net

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