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quarta-feira, novembro 12, 2008

Merval Pereira Perfil renovado



O Globo - 12/11/2008

Talvez o melhor exemplo das mudanças que ocorreram na geografia política dos Estados Unidos, que levaram à vitória de Barack Obama na disputa presidencial, seja a votação que o primeiro presidente negro eleito teve em duas regiões de Michigan: Macomb County, no subúrbio de Detroit, e Oakland County, subúrbio de Birmingham. Essas duas regiões eram enclaves republicanos num estado tradicionalmente azul, por razões diversas. Em Macomb County, uma região predominantemente de operários brancos de classe média que trabalham na indústria automobilística, o voto democrata virou republicano a partir da primeira eleição de Ronald Reagan, em 1980, em protesto contra políticas democratas muito liberais, especialmente em relação aos afrodescendentes.


Em Macomb County, uma região predominantemente de operários brancos de classe média que trabalham na indústria automobilística, o voto democrata virou republicano a partir da primeira eleição de Ronald Reagan, em 1980, em protesto contra políticas democratas muito liberais, especialmente em relação aos afrodescendentes.

Em Oakland County, uma das regiões mais ricas do país, os eleitores sempre votaram nos republicanos. Conhecidos no jargão dos analistas políticos como "Reagan Democrats", podiam ser encontrados em outras regiões do país, e geralmente rejeitavam as políticas democratas em relação à imigração e à segurança nacional.

Foi o especialista em pesquisas eleitorais Stan Greenberg quem melhor estudou esse fenômeno, e ele ontem escreveu um artigo no "New York Times" falando sobre as mudanças ocorridas. Se, em Macomb County, o retorno dos votos para o Partido Democrata deu-se justamente por causa da atuação pessoal de Barack Obama, um negro que se fez percebido pela maioria dos eleitores daquela região como capaz de defender seus interesses, e não como um protetor apenas dos afrodescendentes, em Oakland County ocorreu um fenômeno registrado em outras regiões: a migração interna mudou o perfil eleitoral da região, com profissionais liberais mais tendentes a aceitar a diversidade cultural e racial.

O mesmo fenômeno ocorreu nos estados do Sul do país onde Obama venceu, como Virgínia e Carolina do Norte, que receberam nos últimos anos um influxo de habitantes mais prósperos e com maior nível de escolaridade.

O "New York Times" fez uma análise estatística dos votos que mostrou que, no Sul do país, que continua conservador, são os estados mais pobres, menos escolarizados e com predominância de eleitorado branco que mantêm a predominância republicana.

Em Virgínia, onde George Bush ganhou bem em 2004, Obama venceu por 53% a 46%, em um estado que desde 1964 não votava nos democratas em eleições presidenciais, em protesto contra a lei dos direitos civis iguais assinada por Lyndon Johnson.

Na Carolina do Norte, que não votava em um presidente democrata desde 1976, Obama venceu por 1 ponto. O atual presidente, George W. Bush, superou largamente o democrata John Kerry em 2004, porém os mais de 20% de negros do estado votaram maciçamente em Obama, e também os habitantes das áreas urbanas onde estão instalados pólos tecnológicos e os eleitores têm nível educacional mais elevado.

Ao mesmo tempo em que o candidato democrata Barack Obama se beneficiou de uma modernização de algumas regiões do país, ele também ganhou votos em regiões mais conservadoras, e isso é possível constatar pelo resultado dos mais de 150 referendos que foram realizados em 35 estados sobre temas tão variados quanto o casamento gay e permissão para fumar maconha.

Flórida e Califórnia, que elegeram Obama, proibiram o casamento gay, assim como estados mais conservadores como o Arizona, por onde McCain é senador, e o Arkansas, representante do Sul do país que renovou sua preferência histórica pelo Partido Republicano.

O mais curioso é que, nos estados em que os negros foram em grande número às urnas para ajudar a eleger Obama, eles também ajudaram a derrubar leis "progressistas" que permitiam o casamento gay. Segundo as pesquisas, os eleitores negros e hispânicos têm posição mais conservadora em matéria de costumes.

O próprio Obama, quando instado a dar sua posição sobre o casamento de homossexuais em um dos debates, embora tenha defendido os direitos civis dos homossexuais, expressou o mesmo ponto de vista do conservador McCain: casamento é entre homem e mulher.

Nas duas regiões de Michigan que foram objeto de estudo do analista de pesquisas Stanley B. Greenberg, também houve uma diferença de comportamento do eleitorado em torno do casamento gay, embora as duas regiões tenham dado a vitória a Obama.

Em Oakland County, os profissionais liberais estavam mais dispostos a votar a favor do casamento entre homossexuais do que os operários brancos de Macomb County.

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