Nesta semana, as ações mais notáveis foram protagonizadas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O Fed anunciou operações de swap, isto é, de troca de moedas, com os bancos centrais (BCs) do Brasil, do México, da Coréia e de Cingapura, para ampliar a oferta de dólares nesses mercados.
Ao mesmo tempo, o Conselho Executivo do FMI aprovou a criação de uma linha especial de financiamento para aliviar problemas temporários de países com políticas consideradas saudáveis.
Além disso, a onda de reduções de juros continuou, em vários países, e o Fed cortou mais uma vez a taxa básica americana. O BC brasileiro interrompeu a seqüência de aumentos iniciada em abril.
Há menos de um mês, o desafio mais urgente, nas economias desenvolvidas, era conter a seqüência de quebras no mercado financeiro. Com a decisão de usar dinheiro público para capitalizar as instituições, os governos dos Estados Unidos e da União Européia parecem haver controlado um foco importante de insegurança. Puderam dedicar-se, a partir desse momento, à tarefa de atenuar o efeito da crise financeira sobre as atividades econômicas.
Os bancos brasileiros não se envolveram diretamente na crise dos títulos subprime, isto é, dos papéis lastreados direta ou indiretamente nas hipotecas imobiliárias americanas. Mas foram afetados, assim como a indústria e a agricultura, pela retração do crédito internacional. Com o BC na linha de frente, o governo brasileiro vem procurando, há semanas, atenuar o problema de liquidez e restabelecer um razoável grau de normalidade nos financiamentos ao setor privado.
O acordo com o Fed aumenta o poder de intervenção do BC brasileiro tanto para irrigar o mercado quanto para conter a especulação cambial. A autoridade nacional passa a dispor de um reforço de US$ 30 bilhões pelos próximos seis meses. A mesma quantia foi oferecida a cada um dos outros BCs envolvidos no acordo anunciado na quarta-feira. Arranjos parecidos haviam sido feitos, no auge da crise financeira, com autoridades monetárias das economias mais avançadas. A necessidade mais urgente, no caso brasileiro, é de financiamento para exportações, porque as tradicionais operações de adiantamento de contrato de câmbio ficaram perigosamente escassas.
Ao justificar a iniciativa, os dirigentes do Fed mencionaram as quatro economias como "grandes e sistemicamente importantes". Não se trata de mera gentileza. Uma crise mais séria em qualquer dos quatro países teria conseqüências graves para vários parceiros, especialmente em escala regional. Ao contribuir, por exemplo, para a segurança da economia brasileira, o Fed ajuda também a limitar o risco de problemas importantes na maior parte da América do Sul.
Com a decisão de criar uma linha especial de financiamento para economias basicamente saudáveis, mas sujeitas a problemas temporários de liquidez, o FMI também se empenha numa ação preventiva. O governo brasileiro batalhou durante anos, desde a gestão de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda, pela criação desse instrumento de segurança. A linha agora criada tem as características mais importantes daquela proposta por Brasília com apoio de governos de outras economias em desenvolvimento.
Com esse tipo de ação preventiva, o FMI enriquece o seu repertório e reafirma a sua importância como um fator de segurança da economia mundial. Mas isso é apenas parte de uma inovação mais ampla: forçados por mais esta crise, também os bancos centrais desenvolvem formas inéditas de cooperação internacional. É um aspecto novo e positivo da globalização.