Até há algumas semanas, os debates eram sobre temas como guerra do Iraque, situação dos imigrantes, cobertura dos planos de saúde e questão racial.
Agora, os observadores pontuam que a deterioração da economia pode se tornar o principal cabo eleitoral. Pesa a favor do democrata Barack Obama o fato de que esta crise é identificada com o governo Bush e com outro republicano, o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan, que deixou a bolha tomar corpo. Em princípio, favorece o candidato republicano, John McCain, o argumento de que, na tempestade, é melhor confiar o barco a um comandante mais experiente e mais conservador.
As últimas pesquisas dão uma dianteira a Obama de 51% do eleitorado ante 43% de McCain. Esta não é uma vantagem decisiva porque há ao menos três fatores que podem mudar tudo: (1) a complexidade do sistema eleitoral, que determina, em alguns Estados, que não basta ganhar a maioria dos votos, mas o maior número de representantes do colégio eleitoral; (2) o racismo velado da maioria silenciosa, difícil de captar nas pesquisas; e (3) um certo clima de "já ganhou", que poderia engrossar as abstenções entre o eleitorado de Obama.
Em 1992, quando Bill Clinton derrotou George Bush (pai), prevaleceu a questão econômica, habilmente explorada na campanha. Desta vez, não foi repetido nada parecido com o bordão da candidatura Clinton: "É a economia, idiota!" E isso deixou a impressão de que os temas econômicos ficaram de fora.
É provável que as questões fiscais (déficit provavelmente superior a US$ 1 trilhão neste ano orçamentário) e o fato de que pelo menos 50 milhões de americanos não têm cobertura de saúde adequada não sejam fatores decisivos. Mas outras questões estão afloradas ou subjacentes.
O americano médio sente seu futuro ameaçado. O sonho da casa própria se esvai nesta crise, que tornou insuportável o pagamento das prestações do imóvel. A forte desvalorização dos ativos financeiros derrubou o patrimônio dos fundos de pensão e advertiu seus titulares de que terão de trabalhar mais tempo para garantir o nível planejado de sua aposentadoria. A derrubada das bolsas mostra que 50% das famílias americanas, cujo patrimônio está direta ou indiretamente amarrado ao valor das ações, sofreram forte corrosão no seu pé-de-meia. E, finalmente, espalha-se a percepção de que há uma forte e prolongada recessão à frente que põe em risco o emprego e pode comprometer seriamente o salário.
Nem Obama nem McCain mostraram traquejo prévio em questões econômicas. Mas, para assessorá-lo na área econômica, Obama se acercou de três campeões de credibilidade. O primeiro é Paul Volcker, ex-presidente do Fed (de 1979 a 1987), cuja atuação foi decisiva para acabar com a crise que se seguiu aos choques do petróleo dos anos 70. Os outros são os ex-secretários do Tesouro Robert Rubin e Larry Summers. O pedigree público desses senhores pode ser decisivo na hora de arrebatar o voto indeciso, que ainda é de cerca de 6% do eleitorado.