O Globo |
19/9/2008 |
Tudo indica que os fatos econômicos são tão evidentes e agressivos que mesmo os preconceitos contra o candidato democrata Barack Obama estão sendo superados. A tendência do conjunto de pesquisas voltou a ser favorável a ele, e a crise econômica está fazendo com que o passado de John McCain cobre um pesado pedágio. O furacão Palin, como ficou sendo conhecida a vice da chapa do republicano John McCain, foi varrido do centro da cena política pelo furacão econômico, que não está deixando pedra sobre pedra em Wall Street e similares pelo mundo. O senador John McCain, que tenta se distanciar do fracasso da gestão Bush, acabou irremediavelmente ligado a um outro frustrado presidente republicano, Herbert Hoover, em cujo governo deu-se a quebradeira da Bolsa em outubro de 1929 que desencadeou a Grande Depressão nos anos seguintes. Hoover entraria para a história pela insistência em dizer, no dia seguinte à "quinta-feira negra", que "o negócio básico do país, isto é, a produção e distribuição de commodities, está em bases sólidas e prósperas". Praticamente o mesmo que McCain disse e repetiu nos últimos dias: "Os fundamentos de nossa economia são fortes". Ao mesmo tempo, a transformação de McCain em um campeão da regulamentação dura dos mercados financeiros está fazendo com que seja relembrado o caso da Lincoln Savings & Loan Association, que quebrou devido a uma série de procedimentos irregulares. Em sua biografia, McCain se lamenta pelo caso, e admite que ele fará parte de sua história "até a tumba", o que está realmente acontecendo. Como um fantasma do passado, a investigação do comitê de ética do Senado que levou a que cinco senadores, entre eles McCain, fossem acusados de tentar interferir no processo aberto pelo Federal Home Loan Bank Board, está sendo relembrada a todo momento. McCain foi advertido naquela ocasião, início dos anos 1990, pelo comitê de ética do Senado por ter agido de maneira imprudente no episódio, e outros senadores foram censurados. Em sua biografia, McCain admite que não deveria ter ido a uma reunião em que a questão foi discutida com os investigadores, e que deveria ter saído quando um deles disse que os senadores não deveriam insistir na defesa da instituição, mesmo sabendo que o assunto estava sendo encaminhado para a Justiça. O problema maior de McCain foi a revelação de que ele e sua mulher Cindy eram amigos íntimos de Charles Keating, o dono da Lincoln Savings, de cujo avião corporativo se utilizavam para passar fins de semana nas Bahamas, e eram até sócios em um shopping center. Em meio ao processo, McCain teve que ressarcir as viagens de avião. Com boa vontade, se poderia dizer que McCain aprendeu com o episódio e mudou de posição com relação ao mercado financeiro. Mas, essa é uma interpretação que não bate com os fatos. Seu principal assessor econômico até recentemente, Phil Gramn, foi o senador responsável pelo movimento que fez com que a legislação financeira fosse gradativamente flexibilizada. Saiu oficialmente da campanha depois de dizer que o que havia no país era uma "recessão mental", e de chamar os cidadãos que reclamam da crise econômica de "choramingões". James Galbraith, economista da Universidade do Texas, onde Gramn se formou, o definia como "o mais agressivo advogado de todo instrumento predatório e ganancioso do setor financeiro, um aprendiz de feiticeiro da instabilidade e do desastre no sistema financeiro". A situação de John McCain está tão delicada, diante da atitude do governo americano que dá sinais trocados a cada dia da crise, que o candidato republicano elogiou em um dia o fato de o governo não ter acudido o banco Lehman Brothers, e dois dias depois foi obrigado a também elogiar o resgate do grupo de seguros AIG. Desorientados estão também os congressistas do Partido Republicano, que não estão sendo consultados pelo governo e são surpreendidos pelas medidas anunciadas. O líder da minoria, Whip Roy Blunt, fez questão de registrar que a base parlamentar do governo não está entendendo a estratégia do governo, "se é que existe uma". E criticou a intervenção do governo tanto na AIG quanto anteriormente nas duas gigantes das hipotecas, Fanny Mae e Freddy Mac, que feririam o cerne do pensamento econômico conservador, que é o livre mercado. O fato é que, se Obama teve uma mudança no comportamento político desde que foi indicado oficialmente como candidato democrata à Presidência, sendo acusado de ter cedido ao establishment de Washington e à direção partidária, colocando sua candidatura mais para o centro ideológico do que mantendo-a na esquerda do partido, de onde provém, McCain passou por uma transformação maior ainda. E se Obama conseguiu manter uma base homogênea na sua linha de conduta, mesmo com algumas mudanças, o mesmo não aconteceu com McCain. O senador republicano teve sua vitória nas primárias baseada no fato de ser um republicano "light", quase um democrata ou, quem sabe, um independente. Com a péssima fama do governo Bush, o eleitorado republicano buscou no moderado McCain uma alternativa à renovação proposta pelo democrata Obama. A escolha da vice Sarah Palin foi feita para marcar a independência da candidatura em relação à direção partidária, mas também para dar à base radical dos conservadores um motivo para votar na chapa. A novidade foi tão grande que pareceu mudar os rumos da campanha, até que a realidade da crise econômica falou mais alto do que a fantasia que os republicanos estavam apresentando a seu público. O próprio McCain, tentando reinventar-se como adversário do establishment de Washington e agora de Wall Street, é um monstrengo pouco plausível. Tudo indica que a realidade é por demais dura para ser mascarada por uma proposta claramente falsa. |
Entrevista:O Estado inteligente
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